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Entrevista Ping Pong

Adaptabilidade, disciplina e entusiasmo: timbres do CEO da Chubb 

Leandro Martinez é entrevistado com exclusividade pelo Portal de Notícias Corretora do Futuro. Na oportunidade, ele fala do amor pela música, do preparo para conquistar o sucesso e da sua vida simples, entre acampamentos com a família e leitura

Leandro Martinez
Leandro Martinez

De office-boy a presidente da Chubb no Brasil, Leandro Martinez atuou como vendedor, onde aprendeu a lidar com pessoas. Se formou em Direito e, numa mistura equilibrada de esforço pessoal e circunstância, tornou-se executivo internacional do setor de seguros e financeiro, especializado em regulação, subscrição, gestão e desenvolvimento de negócios de seguros em toda a América Latina, com profundo conhecimento em produtos de linhas financeiras. 

Atualmente responsável pela operação da companhia, P&C, linhas pessoais, desenvolvimento de negócios de acidentes e saúde, sinistros, gestão de portfólio, resseguros e estratégia de subscrição. Entre seus ensinamentos está a habilidade de concentração como uma skill importante e ‘O bem mais caro que temos depois de nossa saúde é nosso tempo’. 

Portal Corretora do Futuro: Conte sua trajetória profissional até chegar à presidência da Chubb. Foram muitos desafios? 

Leandro Martinez: Com certeza, muitos desafios e muitas oportunidades também. Chegar à presidência da Chubb não foi algo planejado, mas, sim, um caminho natural dentro da minha trajetória na empresa. Sou advogado formado, com registro na OAB e tudo, mas nunca tive planos nem mesmo de cursar Direito. Antes disso, era um apaixonado por música, queria viver de música, tocar violão… Só que, em algum momento, meu pai me orientou a levar a música como hobby e buscar uma outra profissão como garantia. Aí, escolhi o Direito por eliminação. Nunca fui exímio aluno em matemática, mas adorava ler, então achei que ser advogado era um bom caminho. 

No início da profissão, eu trabalhava no contencioso da Unibanco AIG, onde comecei em um programa de trainees. Acompanhava as ações judiciais e comecei a perceber que do início de um processo até o seu fim demorava muito. Eu sabia que tinha processos que eu estava acompanhando que provavelmente, não seriam resolvidos. Aquilo me gerava uma certa frustração. Eu queria fazer algo que pudesse ver concluído. Aí, me formei, tirei a licença da OAB e surgiu a oportunidade de eu ir para a diretoria de grandes riscos do Itaú, como analista. 

Meu primeiro chefe, chegou com um balanço e me pediu para avaliar se aquela empresa tinha condições de receber crédito, se o balanço era saudável. Mas na faculdade de Direito você não estuda Finanças. Imediatamente resolvi dizer que eu não tinha ideia do que era aquilo. Então ele pegou um livro sobre administração financeira e me pediu para ler e estudar. Devorei o livro, e depois outros sobre o tema. Aquilo me deu uma vantagem competitiva porque, além de ler e interpretar os contratos na época, eu já conseguia ajudar na parte financeira. 

Surgiu, então, um outro momento de mudança na minha vida: a oportunidade de ir para Chubb. Fui contratado como subscritor sênior para análise de riscos especiais e financeiros, já com uma expectativa de sucessão, pois o head da área iria para fora do país e eu deveria sucedê-lo, o que, de fato, aconteceu. A partir daquele momento, comecei a me reportar diretamente para o CEO. A Chubb era uma multinacional e eu via a possibilidade de uma carreira internacional e isso me atraía. Sem contar a oportunidade de ter também uma visão de gestão de pessoas. 

Fiquei na Chubb até 2010, quando recebi um convite do ACE Group, para trabalhar na reestruturação da área de linhas financeiras, que tinha crescido muito. Fui com a promessa de que, se fizesse um bom trabalho, teria uma oportunidade internacional. Graças ao engajamento das pessoas do meu time, conseguimos entregar um bom resultado. 

Fui promovido a vice-presidente de Linhas Financeiras na América Latina e transferido para os EUA. A experiência foi muito rica, pois comecei a lidar com outras culturas na América Latina e entender o ambiente de negócios em cada país. Existem particularidades, tanto do ponto de vista cultural quanto regulatório. Essa foi uma daquelas passagens profissionais que você leva para a vida toda e que te dão novas ferramentas.

Nesse intervalo de tempo, algumas coisas aconteceram. A primeira foi que a ACE comprou a carteira de grandes riscos do Itaú, que anteriormente tinha passado pela fusão com o Unibanco. Então, eu já conhecia as pessoas que estavam lá. Pouco depois, o ACE Group comprou a Chubb, pela qual eu também já havia passado, e adotou o nome Chubb globalmente.

Quando eu voltei para o Brasil, a companhia era uma mistura de empresas que eu já conhecia (ACE Group, Itaú e Chubb). Isso facilitou o meu retorno. Eu voltei como responsável por toda a estratégia de aceitação de riscos dentro da companhia, em especial a parte de grandes riscos que é a fortaleza que a Chubb tem aqui no Brasil e no mundo. 

Em 2020, no começo do ano, tivemos algumas reestruturações internas e eu assumi a posição de presidente-adjunto. Um ano depois, assumi como presidente da operação brasileira.

PCF: Você chegou a planejar a sua vida pessoal e profissional, conciliando as atividades para alcançar o sucesso como o deste momento ou abraçou as oportunidades que foram se abrindo em sua vida? Como foi esta construção?

Leandro Martinez: Eu abracei oportunidades, mas também fui muito disciplinado. Acredito muito nos resultados da disciplina e repetição. No meu caso, como disse anteriormente, nem mesmo a faculdade foi planejada. Eu brinco que ninguém acorda e diz: quero trabalhar em uma seguradora. Mas é um ramo superinteressante, em plena expansão, e as coisas foram acontecendo. 

Eu não tinha a pretensão de chegar a presidente ou CEO, especialmente no início da carreira. Era algo que estava muito longe da minha visão. Mas chegou um momento em que percebi que era totalmente factível.

O que acontece com cada um na vida é uma conjunção de esforço pessoal e circunstância. Porém, é muito importante que, quando as circunstâncias estiverem a seu favor, você esteja preparado e tenha as ferramentas para não perder a oportunidade. Por exemplo, no meu caso, eu sempre procurei fazer as coisas bem-feitas. Penso que o resto ocorreu naturalmente.

E esse “fazer as coisas bem-feitas” inclui não ter preconceito quanto ao tipo de atividade a ser desempenhada ou ao ramo de trabalho, pois o preconceito com certas profissões é algo que vejo muito aqui no Brasil. Nós, brasileiros, criamos um certo fetiche com o diploma. E, veja, eu não estou incentivando ninguém a não estudar, a não fazer curso superior. Só estou dizendo que esse não é o único caminho. Muitas vezes, encarar por um tempo uma atividade que, de início, pode não parecer tão nobre, pode te dar ferramentas preciosas para o futuro.

Meu primeiro emprego foi de vendedor de assinaturas de revistas em uma editora, ainda antes de me formar. Não tinha nada a ver com o Direito, mas aprendi a vender, a ser simpático, a falar com as pessoas, a convencê-las. Também trabalhei um tempo como office-boy em uma indústria química. Abrir horizontes pode ser um diferencial no mercado de trabalho.

PCF: Como você costuma conciliar a atenção aos negócios e à família? Conte um pouco sobre sua família, costumes, hobbies e o que gostam de fazer juntos?

Leandro Martinez: Não tenho uma regra muito definida para separar o tempo entre trabalho e família. Há tempos mais atribulados, em que o trabalho demanda muito, e há tempos mais tranquilos. Sempre que posso estou com minha esposa e minhas filhas. Gostamos de viajar e passar o tempo juntos. Minhas filhas adoram acampar e estar na natureza, então, sempre que posso, vou acampar com elas. 

PCF: Tem alguma espiritualidade? Pratica esportes ou exercícios? O que costuma fazer nos momentos de lazer?

Leandro Martinez: Sou cristão, creio em Deus, em Jesus Cristo e no Espírito Santo. Tento amar o próximo, todas as vezes que não se trata de uma pessoa muito chata (risos). Eu costumo acordar muito cedo, entre 4h e 4h30 da manhã, pois sou uma pessoa diurna, que vai para cama às 20h30 ou 21 horas, se tiver chance. Sempre penso que “early birds catches the worms” (os madrugadores pegam as minhocas). Acordo, faço um café e dedico um tempo a leitura, em geral literatura. É um momento que eu gosto muito. Por volta das 6 da manhã vou praticar atividades físicas. Sempre gostei muito de esportes, já corri maratonas, já fiz travessias a nado, procuro me manter sempre ativo. Nos momentos de lazer, costumo estudar música, gosto muito de tocar guitarra e piano desde criança.

PCF: Você prefere TV ou livro? Indique um filme ou série e um livro que lhe trouxeram bons ensinamentos?

Leandro Martinez: Eu gosto muito de ler. Meus pais gostavam muito também e na minha casa tinha livro espalhado por todo canto. Quando criança e adolescente, um dos lugares que eu mais gostava de ir era à livraria. Hoje em dia, reservo um tempo logo cedo para ler, ainda antes do dia começar para valer. Então, logo que acordo, costumo me dedicar à leitura. Nesse horário a cabeça está livre para receber conteúdo rico. Eu intercalo leituras. Mesclo livros técnicos com literatura. Eu gosto muito de literatura porque ela traz aspectos essenciais da interação humana para o nosso dia a dia. Atualmente estou lendo ‘A guerra do fim do mundo’, do Vargas Llosa, que fala sobre a Guerra de Canudos. É uma parte da história do Brasil desconhecida pela maioria das pessoas. Não costumo assistir TV, nem séries.

PCF: A sua trajetória profissional começou no Direito e, após mais de 10 anos na mesma empresa, chega a alta gestão. Além disso, dedica parte da sua atuação à inovação, desenvolvimento de pessoas e estratégias. Conte um pouco sobre a importância da sua atuação no crescimento dos negócios e no desenvolvimento do mercado segurador?

Leandro Martinez: Posso dizer que minha trajetória profissional cresceu junto com o mercado segurador no Brasil. Eu acompanhei cada mudança do setor dos últimos 20 anos e fiz parte delas, de alguma forma. Contribui com outros profissionais para o início dos seguros de D&O e RC Profissional no mercado brasileiro quando quase ninguém contratava este tipo de cobertura. Tenho tido o privilégio, atualmente, de participar de várias iniciativas inovadoras no mercado como a distribuição através de canais digitais. Há muitas oportunidades ainda no mercado local.

PCF: Além do Direito, você tem mais paixões profissionais, tais como o papel da Liderança? Como isso é para você?

Leandro Martinez: Eu sempre tive como premissa a importância de me cercar de pessoas melhores do que eu. Eu tenho craques na minha equipe, sempre. Gente que conhece muito mais de finanças, por exemplo, do que eu. Quando você se cerca de pessoas melhores que você, isso já facilita muito o seu papel como líder. E existem outros componentes importantes: confiar, delegar e acompanhar. Claro que você precisa acompanhar o trabalho que delega. Só que tem de dar liberdade para a pessoa realizar. Afinal, ninguém gosta de trabalhar com um gestor que não confia nos subordinados.

Enquanto líder, também sou um entusiasta da comunicação clara e franca. Penso que nenhuma pessoa da minha equipe deve ficar surpresa ao receber de mim uma boa ou uma má notícia. Um líder precisa comunicar com clareza o que deseja em cada etapa do trabalho para, na hora de cobrar ou elogiar, ninguém ficar surpreso. Além disso, com a minha equipe, gosto de fazer uma avaliação quando algo dá errado. E sempre, sempre, vejo que a maioria dos problemas começa na comunicação. Alguém passou uma informação errada, que outro alguém interpretou errado…

Outra coisa importante é que nenhum líder deve se sentir dono da verdade. Eu digo que tudo é circunstancial: eu não sou presidente, eu estou (no cargo de) presidente. Ter humildade é fundamental. Amanhã alguém compra a empresa, a nova gestão não gosta de você e tudo muda.

Então, gosto muito de escutar meus subordinados quando eles trazem problemas ou ideias. Sei que agora está na moda falar de escuta ativa, mas é importante mesmo: prestar atenção, de fato, no que a pessoa tem a dizer, sem a ansiedade de julgar.

O tema da liderança é apaixonante, sobretudo quando se percebe que a superação de limites, e o consequente aperfeiçoamento, são exercícios constantes e para toda vida, além de um caminho solitário. Eu penso que os bons líderes influenciam as pessoas a buscarem o melhor caminho para resolução de problemas comuns a todos. Impor várias regras e dizer como você acha que as coisas devem ser feitas, sem escutar os outros, não é liderar é gerar burocracia.

Vejo muita gente preocupada em fazer cursos para aprender isso ou aquilo. Cursos são uma ótima maneira de aprender algo novo, mas não a única. Hoje, com as redes e a internet, muitos conteúdos ricos estão à disposição de qualquer um. Basta querer aprender, estudar e ter disciplina para aplicar conceitos no dia a dia.

PCF: Na mesma linha de raciocínio, nosso mercado visa proteger pessoas e patrimônios. Como você trabalha junto a sua equipe a valorização profissional e o papel desse time na sociedade? 

Leandro Martinez: A atividade securitária tem uma função eminentemente social, as seguradoras garantem, através da captação da poupança pública, a manutenção e a continuidade das atividades e atos econômicos de indivíduos e empresas através de indenizações. Tento sempre destacar isso para nossas equipes. É muito importante que as pessoas da equipe tenham esta dimensão muito clara. Assim, elas devem buscar a excelência naquilo que fazem, seja na subscrição e aceitação de riscos ou na regulação de sinistros. Tentamos reconhecer essas pessoas internamente, através de promoções e prestigiando sempre e imediatamente os talentos internos antes de olhar para fora.

PCF: Sendo presidente de uma empresa como a Chubb Brasil, você percebe que pode fazer parte da história de milhares de vidas e famílias diretamente ligadas à sua atuação? 

Leandro Martinez: Sim, como eu coloquei anteriormente, nossa atividade tem como objetivo garantir o interesse de nossos clientes segurados. Assim, milhares de pessoas se beneficiam, desde empresas que conseguem manter seus negócios operando quando da ocorrência de um sinistro até, por exemplo, pessoas que tenham o celular roubado. 

PCF: O que você diria para aquele profissional que está começando a carreira ou que já está estabelecido, mas sonha crescer profissionalmente? 

Leandro Martinez: Em primeiro lugar eu deixaria a esses profissionais em início de carreira o maior ensinamento que recebi em casa, que é a disciplina. Outro dia eu li algo em algum lugar que refletia muito o que eu acredito, era algo mais ou menos assim: Não gosta de acordar cedo? Acorde até gostar. Não gosta de treinar? Treine até gostar. Não gosta de estudar? Estude até gostar. Não gosta de trabalhar? Trabalhe até gostar. Isso se chama disciplina e ela derruba qualquer objeção.

A disciplina diferencia as pessoas. Pessoas disciplinadas se destacam em qualquer coisa que fazem, pode observar. Afinal, o Usain Bolt não se tornou o homem mais rápido do mundo treinando na média. Ele colhe os resultados da dedicação, da persistência e da exaustão. 

Curiosidade é outra característica importante no ambiente profissional. É importante investir tempo em aprender, estudar, se interessar pelos assuntos e mergulhar fundo neles. Nos temas e nas pessoas. 

No mundo de hoje, profissionalmente, a gente tem de fazer cada vez mais com menos. Eficiência é a palavra. Então, você precisa saber onde vale mais a pena direcionar esforços. Você terá de escolher. Priorize o que é importante, mas não dê a mesma importância para tudo. Canalize bem a sua força realizadora.

Por fim – eu sei que é difícil – saia das redes sociais. O bem mais caro que temos depois de nossa saúde é nosso tempo, evite gastá-lo passando o polegar na tela do celular. 

PCF: Como você vê o futuro do mercado?

Leandro Martinez: Acredito que o mercado segurador brasileiro seguirá se desenvolvendo. A penetração dos serviços/produtos de seguro ainda é baixa, quando comparamos com a realidade de outros países. 

PCF: Temos falado muito sobre o futuro e as habilidades que precisamos ter e desenvolver para estarmos preparados para ele. Na sua visão, como pensar no futuro, avaliando cenários e tendências, construindo empresas perenes para a sociedade? O que devemos e podemos fazer juntos para apoiar nessa construção?

Leandro Martinez: Acho que a maior habilidade do futuro será a capacidade de concentração para fazer qualquer atividade de maneira ininterrupta por algum tempo. Existe uma batalha pela atenção das pessoas nos meios digitais. Isso faz com que cada vez mais as pessoas tenham dificuldade de concentração e manutenção de foco. Pessoas que tiverem a habilidade de concentração e foco serão diferenciadas naquilo que elas fizerem. O futuro será promissor para quem souber utilizar a tecnologia de maneira instrumental e utilitária e não se tornar um escravo dela.

PCF: Qual foi o foco de desenvolvimento e atuação da Chubb em 2023?

Leandro Martinez: Temos cada vez mais procurado melhorar a qualidade do atendimento aos nossos clientes e desenvolver nossas plataformas digitais, sempre com foco na subscrição e análise de riscos. Costumo dizer que no mercado de seguros nenhuma boa ideia resiste a um índice combinado maior do que 100% por muito tempo.

PCF: Como a Chubb vê o mercado para 2024, considerando o atual cenário socioeconômico mundial?

Leandro Martinez: A Chubb é uma empresa de capital aberto e não podemos fazer projeções nem falar de planos da companhia. Posso dizer, no entanto, que o mercado de seguros no Brasil tem um enorme potencial de crescimento e o próprio desempenho registrado em 2023 pelas empresas do setor é prova disso. Temos uma série de oportunidades e desafios pela frente. 

Entre os desafios a serem enfrentados nesse caminho estão a ampliação do conhecimento da população em relação aos benefícios dos produtos de seguro e o aperfeiçoamento de canais de distribuição. Na Chubb temos um foco bastante intenso nessas questões. Se o governo conseguir acelerar os projetos que estão na pauta, nichos como seguro garantia, riscos operacionais, de engenharia entre outros terão forte demanda. Além dos seguros corporativos. Vejo também infinitas oportunidades no segmento de pessoas físicas diante do baixo consumo de seguros em diversos segmentos.