Facebook Pixel

Transportes

São Paulo e Rio lideram roubo de cargas e ameaçam a economia

Relatório revela 10 mil ocorrências por ano; tecnologia, seguros obrigatórios e estratégias preventivas são cruciais para reduzir os prejuízos

São Paulo e Rio lideram roubo de cargas e ameaçam a economia

O roubo de cargas voltou a crescer no Brasil e reacendeu o alerta entre transportadoras, empresas de logística e autoridades de segurança pública. Além de impactar diretamente motoristas e o abastecimento de mercadorias, a prática criminosa gera perdas milionárias e compromete a competitividade do setor produtivo.

Segundo levantamento da nstech, empresa de software para supply chain, o estado de São Paulo lidera as ocorrências, concentrando 56,8% dos prejuízos. O Rio de Janeiro aparece em segundo lugar, com um aumento expressivo: dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que os roubos de carga no estado cresceram 99% em fevereiro de 2025 em relação ao mesmo mês do ano anterior, saltando de 160 para 319 casos. Juntos, os dois estados se consolidam como os principais focos dessa modalidade criminosa.

“A estatística mostra que o problema deixou de ser pontual e se tornou estrutural, exigindo respostas rápidas do setor e do poder público”, afirma João Paulo, CEO da Mundo Seguro, empresa especializada em seguros de cargas.

Cenário nacional: perdas bilionárias e impacto na economia

Em 2024, o Brasil registrou, em média, 27 ocorrências de roubo de cargas por dia, segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (SINESP). No ano, foram 10.478 casos em todo o país, com prejuízos estimados em R$ 1,2 bilhão, de acordo com a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística.

No primeiro semestre de 2025, os ataques cresceram 24,8%, confirmando a tendência de alta. Os efeitos são sentidos em toda a cadeia logística: aumento de custos operacionais, necessidade de rotas alternativas, investimentos extras em segurança e atrasos nas entregas. Essas medidas elevam os custos repassados ao consumidor final e reduzem a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.

Estradas críticas ampliam risco de ataques

As rodovias federais concentram parte significativa das perdas. A BR-101, que cruza o país do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, respondeu por 14,7% dos prejuízos — mais que o dobro do registrado em 2024. Já a BR-226 concentrou 8% das perdas, principalmente nos trechos do Tocantins e Maranhão.

Outro dado preocupante é que as sextas-feiras concentram 23,2% dos roubos registrados no primeiro semestre de 2025, tornando-se o dia mais crítico para transportadoras.

Seguros obrigatórios fortalecem a proteção patrimonial

Desde a promulgação da Lei 14.599/23, a contratação dos seguros RCTR-C (Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Carga), RC-DC (Desaparecimento de Carga) e RC-V (Veículo) se tornou obrigatória no país. Essa mudança vem fortalecendo a proteção patrimonial e financeira das operações de transporte.

Entre janeiro e maio de 2025, segundo a CNseg, a arrecadação do RC-DC cresceu 8,1%, alcançando R$ 570 milhões, enquanto as indenizações subiram 12,4%, totalizando R$ 239 milhões. Já o RCTR-C avançou 1,5%, somando R$ 721 milhões em prêmios, com pagamentos de quase R$ 520 milhões, alta de 5,2%.

Para João Paulo, da Mundo Seguro, o seguro adequado é peça-chave: “Um seguro mal dimensionado pode significar a falência de uma operação após um grande roubo. É essencial que a apólice seja feita sob medida para cada perfil de transporte.”

Portaria da ANTT reforça fiscalização

O cenário de obrigatoriedade de seguros ganhou novo impulso com a Portaria SUROC nº 27/2025, publicada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em 11 de agosto. A norma prevê a suspensão do Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC) para empresas que não comprovarem a contratação das coberturas obrigatórias.

“É de suma importância essa nova normativa da ANTT. Ela traz uma evolução no método de fiscalização, saindo de documentos físicos para um modelo digital e integrado, o que promete maior eficiência e controle sobre a obrigatoriedade da cobertura de seguros no transporte de cargas”, destacou Esteves Colnago, diretor de Relações Institucionais da CNseg.

A comprovação poderá ser feita por apresentação do frontispício da apólice, do certificado de seguro ou por verificação automática, via intercâmbio de dados em tempo real entre a ANTT e seguradoras. O sistema digital deve estar plenamente implementado até 10 de março de 2026.

Prevenção estratégica: tecnologia e gestão de risco

Especialistas apontam que, diante da escalada da criminalidade, apenas o cumprimento da legislação não é suficiente. Estratégias complementares são necessárias, como mapeamento de rotas críticas, rastreamento em tempo real, telemetria avançada e seguros personalizados.

“Roubos, acidentes e sinistros podem gerar perdas milionárias. O seguro de carga garante ressarcimento, protegendo transportadoras, fornecedores e clientes. Em um cenário de tanta vulnerabilidade, quem não se protege fica para trás”, conclui João Paulo.