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Equidade

Dia da Consciência Negra: é hora de diversificar o mercado de seguros

Como a representatividade de pessoas negras pode transformar o setor de seguros em um espaço mais justo, diverso e conectado às realidades brasileiras

Dia da Consciência Negra

 “A questão do negro não é para o negro resolver, é para a nação brasileira.” Essa frase da escritora Conceição Evaristo, uma das mais importantes da atualidade, reflete a necessidade de ações coletivas para enfrentar as desigualdades raciais que ainda persistem em diversos setores, incluindo o mercado de seguros. 

O Dia da Consciência Negra, agora reconhecido como feriado nacional, é celebrado em 20 de novembro como um convite para refletir sobre o papel de cada indivíduo e organização na construção de uma sociedade mais igualitária.

Instituído oficialmente pelo Projeto de Lei nº 3268/2021, sancionado pelo presidente Lula, o dia homenageia Zumbi dos Palmares, líder de um dos maiores quilombos do período colonial brasileiro. A data já era considerada feriado em seis estados e cerca de 1,2 mil cidades, mas em 2024 se transforma em um marco nacional na defesa e promoção da igualdade racial.

A inclusão no mercado de seguros: um caminho para a transformação do setor

O mercado de seguros desempenha um papel necessário no que diz respeito à proteção e à estabilidade econômica de milhões de brasileiros. No entanto, ele também mostra as desigualdades estruturais da sociedade, especialmente em relação à inclusão de pessoas negras e mulheres. 

Em um país onde mais da metade da população se autodeclara preta ou parda, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a representação desse grupo no setor de seguros ainda está muito longe do ideal.

No mercado de seguros, a reflexão da escritora citada no início deste texto se faz urgente: promover a diversidade não é responsabilidade exclusiva dos grupos sub-representados, mas de todos os agentes que atuam no setor, das grandes seguradoras às corretoras de pequeno porte.

Por isso, a Lojacorr se sente na obrigação cidadã de explorar os desafios enfrentados por pessoas negras, especialmente mulheres, no mercado de seguros. Ao mesmo tempo, pretende destacar as oportunidades que a inclusão pode trazer para transformar o setor e ampliar sua relevância social.

Um panorama da exclusão no setor

A falta de diversidade no mercado de seguros não é um problema isolado. Historicamente, setores econômicos de alto prestígio e remuneração, como o de seguros, apresentaram barreiras para a entrada de grupos marginalizados. Essas barreiras vão desde preconceitos explícitos até a ausência de políticas que promovam a inclusão.

No caso das mulheres negras, os desafios são ainda maiores. Dados do IBGE mostram que elas ocupam as posições menos valorizadas no mercado de trabalho e enfrentam o menor salário médio em comparação com homens e mulheres de outras etnias. No mercado de seguros, essas dificuldades se refletem na baixa representatividade em cargos de liderança e na falta de oportunidades de capacitação específica.

Carolina Ferreira Santana, proprietária da C&F Santana Corretora de Seguros, compartilhou sua experiência ao longo de 16 anos na área: “Nunca conheci outra mulher negra pessoalmente no setor. Isso revela como ainda há um longo caminho a percorrer para que o mercado de seguros se torne verdadeiramente diverso e inclusivo.”

Carolina Ferreira Santana

Educação e sensibilização como bases da mudança

A transformação do mercado de seguros começa com a conscientização. Programas de educação corporativa têm se mostrado fundamentais para desconstruir preconceitos e criar ambientes mais acolhedores. Treinamentos sobre viés inconsciente, por exemplo, ajudam a identificar atitudes e comportamentos que perpetuam a exclusão, mesmo que de forma não intencional.

Valéria Graciano, gestora da Unidade Zona Oeste – SP da Lojacorr, destaca que “educar é mais do que informar, é sensibilizar. É fazer com que as pessoas entendam que a diversidade não é uma ameaça, é um ativo importante.” Para ela, a mudança de mentalidade é um passo essencial para que as corretoras se tornem mais abertas a contratar e reter talentos diversos.

Valéria Graciano

Além disso, a inclusão de temas relacionados à equidade em eventos do setor, como congressos e palestras, pode ajudar a ampliar o debate e gerar maior engajamento de lideranças. “Quando um CEO ou um diretor fala sobre a importância da diversidade, isso sinaliza para toda a organização que o tema é prioridade”, afirma Valéria.

O impacto da diversidade na experiência do cliente

Do ponto de vista estratégico, a inclusão também traz benefícios diretos para o mercado de seguros. Um dos principais argumentos a favor da diversidade é a sua capacidade de tornar as empresas mais adaptáveis às necessidades de clientes variados.

Julio Ferreira, gestor da Unidade Florianópolis da Lojacorr, enfatiza que “uma equipe diversificada reflete melhor o mercado. Ela nos ajuda a entender diferentes realidades e a oferecer soluções mais empáticas e adequadas.”

Em um setor em que a confiança é um elemento-chave para fidelizar clientes, a capacidade de se conectar com diferentes públicos é uma vantagem competitiva importante. A representatividade nas equipes pode ajudar a construir essa conexão, permitindo que clientes se identifiquem mais facilmente com os profissionais que os atendem.

Mulheres negras no mercado de seguros

A experiência de mulheres negras no setor de seguros é marcada por desafios que vão desde o acesso às oportunidades até a necessidade constante de provar sua competência. Muitas relatam episódios de preconceito velado e dificuldades em encontrar apoio para desenvolver suas carreiras.

Ana Paula Batista de Andrade, sócia-proprietária da Novana Corretora, acredita que a falta de representatividade feminina e negra nas lideranças do setor é uma das barreiras mais difíceis de superar. “Se você não vê pessoas como você em cargos altos, isso impacta diretamente sua percepção sobre o que é possível alcançar”, afirma.

Apesar disso, Ana Paula destaca a importância do exemplo. Compartilhar histórias de sucesso pode ajudar a inspirar outras mulheres negras a ingressarem no mercado de seguros. “Quando uma pessoa vê que outra conseguiu, isso cria um efeito multiplicador de coragem e determinação.”

Iniciativas para a inclusão no mercado de seguros

Várias ações podem ser adotadas pelas corretoras e seguradoras para promover a inclusão de pessoas negras e mulheres no setor. Algumas das mais eficazes incluem:

  1. Estabelecimento de metas claras de diversidade: empresas que definem metas específicas de contratação e promoção de profissionais de grupos sub-representados têm mais sucesso em criar ambientes diversos.
  2. Programas de mentoria: a mentoria pode ajudar a desenvolver habilidades técnicas e comportamentais, além de conectar profissionais em início de carreira com líderes que possam orientá-los.
  3. Grupos de afinidade: criar espaços onde pessoas negras possam compartilhar experiências e construir redes de apoio é uma maneira eficaz de fortalecer a inclusão.
  4. Parcerias com instituições educacionais: estabelecer colaborações com escolas e universidades pode ajudar a ampliar o acesso de jovens negros a cursos e programas de capacitação em seguros.
  5. Campanhas de sensibilização: internamente, campanhas que abordam o racismo estrutural e a importância da equidade são fundamentais para engajar todos os colaboradores no tema.

A representatividade como chave para o futuro

Mais do que números ou estatísticas, a inclusão no mercado de seguros é sobre criar oportunidades para que pessoas de diferentes origens possam prosperar. Isso implica abrir portas e garantir que essas pessoas tenham as ferramentas e o suporte necessários para se desenvolverem plenamente.

Como destacou Carolina, “a capacidade das pessoas não está na cor da pele, mas nas oportunidades que recebem. Precisamos garantir que essas oportunidades cheguem a todos.”

Investir em diversidade é investir no futuro do mercado de seguros. Em uma sociedade cada vez mais plural, as empresas que não abraçarem a inclusão correm o risco de se tornarem obsoletas, tanto em termos de relevância social quanto de competitividade.

Ana Paula Batista de Andrade

Um setor mais inclusivo beneficia a todos

A frase de Conceição Evaristo ressoa como um chamado à ação: a inclusão não é responsabilidade de um grupo, mas de toda a sociedade. No mercado de seguros, isso significa que todos – corretores, seguradoras, associações e instituições de ensino – têm um papel a desempenhar para construir um setor mais justo e equitativo.

Quando promove a diversidade, o mercado de seguros amplia suas próprias possibilidades de crescimento e contribui para uma sociedade mais inclusiva e representativa. Essa transformação, ainda em curso, requer comprometimento, diálogo e uma visão de longo prazo.

O mercado de seguros tem o potencial de se tornar um exemplo de como a diversidade pode ser um motor de inovação e sucesso. Para isso, é preciso reconhecer que a inclusão não é apenas uma questão moral; é uma estratégia para construir um setor mais humano, eficiente e conectado às realidades de seus clientes.

Com ações concretas e lideranças comprometidas, o mercado de seguros pode se tornar um espaço onde todos, independentemente de cor, gênero ou origem, tenham a oportunidade de prosperar. Essa é uma jornada que beneficia os profissionais do setor. Mas não só isso. Beneficia toda a sociedade brasileira.