Durante a COP 29, em Baku, capital do Azerbaijão, representantes de importantes entidades brasileiras, como a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), se reuniram para discutir o papel do setor privado nas finanças sustentáveis e as contribuições que podem ajudar o Brasil a enfrentar os desafios socioambientais impostos pela crise climática.
O debate, mediado pelo diretor de Políticas de Mitigação, Adaptação e Instrumentos de Implementação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança no Clima (MMA), Aloisio de Melo, contou com a presença de Cristina Barros, diretora de sustentabilidade da CNseg, o superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, e o diretor de Sustentabilidade da Febraban.
A conversa abordou como os diferentes setores podem integrar esforços para promover o desenvolvimento econômico enquanto preservam o meio ambiente e garantem o bem-estar social.
O papel do setor segurador na adaptação climática
Cristina destacou o potencial do setor segurador para atuar como um investidor-chave nas iniciativas de transição climática, além de contribuir para a adaptação e resiliência diante dos desastres climáticos.
Ela lembrou que, globalmente, um terço das perdas causadas por desastres climáticos é coberto por seguros, mas ressaltou que o setor ainda não é amplamente reconhecido nas discussões da Convenção do Clima.
“O que temos defendido, por meio do Brasil, é a inclusão do seguro como uma ferramenta para enfrentar as emergências climáticas”, afirmou Cristina, enfatizando a importância da colaboração entre o setor privado e o governo na construção de soluções.
Iniciativas do setor financeiro e industrial
O setor financeiro também tem se destacado na agenda socioambiental, especialmente por meio da Febraban, que desde 2008 participa ativamente das questões climáticas e, desde 2015, tem se envolvido com a implementação da taxonomia verde.
Amauri Martins, executivo da Febraban, afirmou que o objetivo agora é engajar os clientes para que adotem práticas de baixo carbono e alcancem a meta de carbono zero. “O Brasil tem o potencial de se tornar um hub global de soluções climáticas, com um mercado de US$ 3 trilhões nos próximos anos”, disse Martins, ressaltando a necessidade de políticas de longo prazo e investimentos consistentes.
Por sua vez, a CNI, representando cerca de 9 mil estabelecimentos, traçou uma estratégia focada em transição energética, economia circular e conservação florestal, aproveitando as vantagens comparativas do Brasil para gerar vantagens competitivas no mercado global.
David Bontempo, da CNI, destacou a importância de um diálogo contínuo entre o setor privado e o governo federal para manter o Brasil na liderança da agenda verde.
Aloisio de Melo concluiu o painel destacando a relevância do envolvimento dessas instituições para fortalecer a agenda ambiental do Brasil. “O diálogo entre setor privado e governo é essencial para garantir o avanço das políticas públicas e a inserção do Brasil como líder nas soluções climáticas”, afirmou.
Desastres naturais e o aumento das perdas no setor de seguros
Nos últimos cinco anos, as catástrofes naturais causaram perdas anuais médias de US$ 106 bilhões para o setor de seguros. Esse número, que já é grande, pode aumentar para US$ 151 bilhões nos próximos anos, à medida que a urbanização avança e os efeitos das mudanças climáticas se intensificam.
A destruição ambiental resultante das queimadas na Amazônia exemplifica como o aquecimento global e os desastres climáticos afetam diretamente os mercados, especialmente o setor agropecuário, que vê aumentar a demanda por seguros para proteger a produção e os maquinários.
Seguro Agro e a importância da adaptação
O Seguro Agrícola desempenha um papel necessário na proteção dos produtores contra as consequências dos desastres naturais. Com os riscos de secas, tempestades e incêndios, os agricultores precisam de soluções adequadas para garantir a continuidade de suas atividades.
A conscientização dos corretores de seguros sobre a importância dessa proteção, especialmente em um contexto de crescente risco climático, é fundamental para a sustentabilidade do setor.
A preservação ambiental está intrinsecamente ligada à segurança econômica, especialmente no agronegócio. Combater as queimadas e a destruição ambiental protege o ecossistema e reduz os riscos para a indústria de seguros, em particular para o Seguro Agro, essencial para garantir a resiliência do setor diante de eventos climáticos extremos.
Enchentes no Rio Grande do Sul: prejuízos e desafios para o setor agropecuário
Outro exemplo alarmante dos impactos climáticos foi a devastação causada pelas enchentes no Rio Grande do Sul, que resultaram em perdas estimadas em R$ 3 bilhões para o agronegócio.
Mais de 2 mil produtores rurais foram afetados, sendo que 73% deles são pequenos produtores, os mais vulneráveis aos desastres naturais. Este cenário reforça a necessidade de uma adaptação do setor de seguros, com novos produtos que atendam às especificidades das condições climáticas extremas e permitam uma recuperação mais eficiente para os produtores.
O governo federal tem adotado medidas como a criação de uma linha de crédito de R$ 600 milhões para a agricultura familiar, mas o setor de seguros ainda enfrenta desafios no longo prazo para adequar suas apólices às frequentes mudanças climáticas.
A necessidade de estratégias emergenciais, como novos produtos de seguro e linhas de crédito, é urgente para apoiar a recuperação do setor e garantir sua sustentabilidade frente aos riscos ambientais em crescimento.