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Coluna do Influenciador

Seguro Transporte: o amortecedor essencial em um cenário de roubos crescentes

O aumento das indenizações e a persistência da criminalidade nas estradas brasileiras exigem uma nova postura estratégica de transportadoras, embarcadores e corretores

caminhão seguro transporte

Permitam-me compartilhar uma análise aprofundada sobre um tema que tem sido central em nossas discussões no setor de transporte de cargas: o aumento alarmante das indenizações no Seguro Transporte por conta da escalada dos sinistros no Brasil. Os números não mentem e nos obrigam a uma reflexão séria sobre os desafios e as soluções disponíveis.

Números que preocupam

Como corretor de seguros, tenho acompanhado de perto os impactos dessa crescente criminalidade. Recentemente, dados oficiais confirmaram o que já sentíamos na ponta: a criminalidade nas estradas brasileiras segue impactando o transporte de cargas e o seguro tem sido, de fato, um dos principais amortecedores dos prejuízos.

Segundo informações da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) e da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), o ramo de Seguro Transporte pagou impressionantes R$ 904 milhões em indenizações no primeiro trimestre de 2025. Isso representa um salto de 46,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Paralelamente, a arrecadação com prêmios também cresceu, atingindo R$ 1,570 bilhão no trimestre, uma alta de 10,8% sobre 2024.

O avanço nos sinistros acompanha, lamentavelmente, a escalada dos crimes de roubo e furto de carga.

Uma visão do campo de batalha

O aumento da sinistralidade tem um impacto direto na aceitação e nas taxas dos seguros de transporte. Na minha visão, as seguradoras sempre buscaram o equilíbrio técnico e o resultado operacional no transporte. No entanto, diante do cenário atual de alta sinistralidade, elas podem revisar suas condições técnicas e comerciais com ainda mais contundência

Elas exigem mais em relação à gestão de risco e à implementação de melhorias para reduzir a exposição. Não se trata apenas de apertar o cinto, mas de garantir a sustentabilidade do produto em um cenário tão desafiador.

Para os segurados, ou seja, transportadoras e embarcadores, o reflexo é imediato nos contratos de seguro. No entanto, o custo vai muito além do prêmio. Pensem nos produtores: a não entrega de produtos impacta diretamente a qualidade dos serviços que prestam, no cerne de seus negócios. 

A preocupação central, que era carregar a mercadoria e entregar ao cliente, agora se estende a adequar os contratos de seguros, aprimorar o gerenciamento de riscos e apertar as regras. Convenhamos, isso não é bom para ninguém.

Para nós, corretores, a situação é igualmente complexa. Lidar com apólices de alta sinistralidade gera mais despesa operacional na área de sinistros e de comercialização. Precisamos investir mais tempo e esforço para encontrar no mercado seguros que sejam atraentes para nossos clientes. Isso, por vezes, nos leva a ter que trocar de seguradora, implementar novas apólices e adaptar novamente os gerenciamentos de risco. É um cenário de constante adaptação e negociação.

Sudeste no foco

A concentração de perdas na Região Sudeste é inegável – também de acordo com a FenSeg. Em 2024, 83% dos prejuízos se deram em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, uma tendência que se manteve em 2025. Nos primeiros três meses deste ano, RJ e MG já acumulam aumento superior a 40% nas ocorrências. 

Esses dados impactam diretamente nas indenizações por desvio de cargas, com São Paulo liderando o ranking com R$ 62,2 milhões pagos no trimestre, seguido por Minas Gerais (R$ 26,1 milhões), Rio Grande do Sul (R$ 9 milhões), Rio de Janeiro (R$ 8,9 milhões) e Santa Catarina (R$ 7 milhões).

No Rio de Janeiro, é comum que as seguradoras aumentem a participação obrigatória do segurado nos sinistros de roubo ou desaparecimento de mercadoria (RCF-DC). Para as transportadoras que operam nessa região, isso torna a operação mais onerosa e, de certa forma, com menos proteção. O embarcador também sente a consequência no aumento do preço dos fretes.

Já em São Paulo e Minas Gerais, embora não haja o mesmo hábito de participação obrigatória do transportador nos sinistros, as seguradoras têm exigido mais restrições. Falo de aumento do nível de rastreamento, duplo rastreamento ou redundância, uso de escoltas, bloqueios e restrições de horários. Todas essas medidas visam proteger os resultados das seguradoras e promover o equilíbrio de suas carteiras diante da alta sinistralidade, mas, inevitavelmente, desencadeiam custos adicionais para toda a cadeia logística.

Otimizando custos e segurança

O seguro, de fato, é um grande incentivador de investimentos em monitoramento, rastreamento e gerenciamento de riscos. No entanto, é preciso destacar que a construção do Plano de Gerenciamento de Risco (PGR) passa pela assessoria e validação de uma empresa gerenciadora de risco

Esse PGR, discutido em conjunto com a gerenciadora de risco, é o instrumento preponderante para a organização da logística da transportadora e para que os termos e condições da apólice sejam negociados. Um PGR bem feito e aprovado por uma gerenciadora de risco significa buscar melhores taxas e termos e condições no mercado de seguros, além de, obviamente, proporcionar menos sinistros.

As principais tecnologias e práticas de segurança que as transportadoras precisam implementar para reduzir o risco de roubo de cargas e, consequentemente, otimizar o custo do seguro incluem os pontos abaixo.

  • Sistemas de rastreamento e monitoramento avançados: além do rastreamento básico, a redundância no sistema, com diferentes tecnologias (GPS, radiofrequência, GPRS), aumenta a segurança.
  • Plano de Gerenciamento de Riscos (PGR): a implementação de um bom PGR, adaptado às especificidades de cada operação e tipo de carga, é fundamental. Isso inclui mapeamento de rotas de risco, análise de pontos de parada e definição de procedimentos de emergência.
  • Tecnologias de bloqueio e travamento: dispositivos de bloqueio eletrônico e mecânico nos veículos e carretas, acionados remotamente, impedem a continuidade do roubo.
  • Inteligência Artificial e análise de dados: a utilização de IA para analisar padrões de roubo, identificar rotas de maior risco e prever possíveis ataques pode otimizar as estratégias de segurança e reduzir a exposição.
  • Treinamento e capacitação dos motoristas: motoristas bem treinados em procedimentos de segurança, reação a sinistros e uso das tecnologias embarcadas são uma linha de defesa vital.

Escolha da apólice e gestão de risco

Com a frequência e a sofisticação das quadrilhas em crescimento, o papel do corretor de seguros é mais importante do que nunca. Além de buscar no mercado seguradoras que ofereçam contratos atraentes, a melhor forma de ajudar o transportador é auxiliá-lo na melhor escolha do gerenciamento de risco e das gerenciadoras de risco.

Minha atuação se dá em estar presente com o segurado, acompanhando os sistemas de gerenciamento de risco e os PGRs. Ajudar nessa interlocução entre as partes é o melhor mecanismo que o corretor pode utilizar. 

É fundamental que o corretor esteja atualizado, participando de eventos, cursos e treinamentos, buscando o que o mercado segurador e o mercado de gerenciamento de risco vêm oferecendo de novidade e inovação. Principalmente em uma era em que a inteligência artificial está pulsando no nosso mercado, o corretor precisa dominar essas novas tecnologias, novas frentes e novos métodos para oferecer as melhores soluções.

Além do roubo: outros sinistros e proteção abrangente

Embora o roubo de carga domine as manchetes, outros tipos de sinistros também contribuem para o aumento das indenizações no Seguro Transporte. Dados extraoficiais, obtidos em um workshop que participei, mencionam que, em 2024, dos cerca de 72 mil acidentes rodoviários registrados, aproximadamente 30% envolveram caminhões.

Esses acidentes rodoviários vão além dos prejuízos causados à carga, que são cobertos pelo seguro de Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Carga (RCTR-C) e o desaparecimento de carga, coberto pelo RCF-DC. Acidentes também causam danos a pessoas e danos materiais a terceiros.

Recentemente, o seguro RCV (Responsabilidade Civil dos Veículos dos Transportadores) foi exigido pela nova lei do transporte, sendo incluído no grupo de seguros de transporte no mês de maio. As seguradoras tiveram um prazo para se adaptar. Dessa forma, o transportador passa a ser obrigado a ter:

  • Seguro de acidentes (RCTR-C): que já era obrigatório antes da nova lei.
  • Seguro de desaparecimento de carga (RCF-DC): agora obrigatório.
  • Danos causados a terceiros (RCV): também se tornou obrigatório, protegendo danos materiais, corporais e morais a terceiros.

Essa nova estrutura legal acomoda os maiores riscos do transportador e, ao mesmo tempo, permite que as seguradoras cumpram sua função social em termos de amparo a esses riscos, protegendo a carga dos embarcadores e os terceiros envolvidos na operação. Acredito ser uma medida justa, legal e socialmente bem-vinda essa obrigatoriedade.

Futuro do Seguro Transporte e os desafios da criminalidade

Toda essa nova legislação e as mudanças no mercado de seguro de carga e transporte trazem, na verdade, oportunidades para o corretor de seguros. Sempre que há mudanças, novos ritos legais e novas oportunidades, surgem janelas para aqueles corretores que se especializam, que conhecem o produto ou que buscam apoio com corretores especialistas para oferecer soluções.

Essas mudanças são uma oportunidade para que o corretor da Lojacorr, por exemplo, possa olhar para sua carteira, identificar clientes transportadores e, em parceria com os parceiros da Lojacorr, buscar e oferecer soluções, inclusive com a possibilidade de negócios compartilhados.

O cenário é desafiador, mas o Seguro Transporte, cada vez mais estratégico, e o trabalho do corretor, tornam-se ferramentas indispensáveis para a continuidade e a segurança da cadeia logística no Brasil.