O clima de euforia que levou o Ibovespa a um novo recorde de 146.991 pontos nesta segunda-feira (27) não se restringe à B3, mas reverbera com força no mercado de seguros, que se consolida como uma das bases da estabilidade da economia brasileira.
Para as seguradoras, a onda de otimismo global – impulsionada pela perspectiva de acordo comercial EUA-China e pela política de corte de juros do Federal Reserve – se traduz em um benefício duplo: valorização de seu gigantesco patrimônio financeiro e aquecimento do mercado consumidor.
Balanço das seguradoras
O setor de seguros, supervisionado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), administra um volume colossal de recursos, as chamadas Reservas Técnicas, que atingiram a marca de R$ 1,9 trilhão em maio de 2025, o equivalente a cerca de 15,85% do Produto Interno Bruto (PIB). Essas reservas são o colchão financeiro que garante o cumprimento das obrigações futuras com os segurados.
Analistas de mercado destacam que uma parte desses recursos é alocada em investimentos no mercado de capitais.
A alta recorde do Ibovespa e a valorização geral dos ativos são imediatamente refletidas no resultado financeiro das companhias. O bom desempenho da bolsa turbina a rentabilidade das Reservas Técnicas, gerando lucros mais expressivos e sustentando a saúde financeira do setor.
Este ganho financeiro é fundamental, especialmente em um cenário de queda da taxa Selic, em que a rentabilidade da renda fixa (títulos do governo) tende a diminuir. A migração de capital para a renda variável, estimulada pela perspectiva de juros mais baixos nos EUA e no Brasil, beneficia diretamente o portfólio das grandes seguradoras.
Previdência Privada é o maior beneficiário Indireto
Dentro do mercado de seguros, o segmento de Previdência Aberta (VGBL e PGBL) é um dos mais sensíveis ao otimismo.
Embora o Boletim Susep mais recente tenha mostrado alguma desaceleração na captação líquida em 2025, a perspectiva de alta da bolsa reverte o cenário. Acompanhe.
- Fundos expostos: os planos de previdência com maior exposição a fundos de ações veem seus saldos valorizados, o que melhora a percepção de rentabilidade.
- Confiança do investidor: o ambiente de confiança e a busca por retornos mais altos (devido à queda dos juros) atraem novos aportes e estimulam a poupança de longo prazo. O VGBL, em particular, tem se mostrado como uma importante alternativa de investimento e complemento de renda futura.
Aquecimento econômico e crescimento dos ramos
Além da rentabilidade financeira, o principal motor de crescimento para o setor de seguros é a expansão da economia real, que o otimismo global sinaliza.
- Seguros de Pessoas: com a melhora nas expectativas do PIB (projetado para crescer acima de 2,5% em 2025) e a queda do desemprego, há um aumento na renda disponível. Isso impulsiona a compra de Seguro de Vida e a busca por maior proteção patrimonial. O ramo de Seguros de Pessoas tem se destacado, com crescimento estimado pela CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras) acima de 9% em 2025.
- Seguros de Danos e Responsabilidade: o momento favorece o ambiente de negócios. A queda do dólar, a perspectiva de acordos comerciais e a maior confiança levam empresas a investir mais. Isso gera maior demanda por Seguro Garantia e Riscos de Engenharia (ligados a novos projetos e obras), além do crescimento em Seguro Auto e Seguro Residencial (impulsionado pela venda de bens).
Impacto na precificação e gestão de riscos
O otimismo do mercado financeiro também pode influenciar, de maneira sutil, a estratégia atuarial das seguradoras, embora a precificação de apólices seja majoritariamente baseada em dados históricos e modelos estatísticos.
- Risco de subscrição: com notícias animadoras e aumento da concorrência pelas vendas, pode haver uma tendência, por parte de algumas companhias, de suavizar a precificação em busca de market share (participação de mercado). No entanto, as rigorosas regulamentações da Susep e os modelos de risco de capital agem como um freio, garantindo que o custo real do risco continue sendo o fator primordial.
- Taxa de desconto: a taxa de juros utilizada para descontar as obrigações futuras (os pagamentos de sinistros esperados) é um componente chave na avaliação atuarial. Em um cenário de projeções de juros mais baixos (Selic), as obrigações de longo prazo (como as da Previdência) se tornam financeiramente mais “caras” no presente, incentivando as seguradoras a buscar maior eficiência operacional e a diversificar seus assets para compensar a queda no retorno da renda fixa.
O setor segurador no Brasil tem mantido uma trajetória de expansão consistente, com crescimentos anuais acima de 10% nos últimos anos e a meta ambiciosa de alcançar 10% do PIB nacional até 2030. O dia de recorde na bolsa reafirma a crença de que o mercado está no caminho certo para manter a relevância econômica e social.
