O mercado de seguros de transporte de carga vive um momento de forte expansão. De acordo com a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), entre janeiro e maio de 2025 a arrecadação dos seguros de transporte somou R$ 2,7 bilhões, crescimento de 11,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. No mesmo intervalo, as indenizações pagas chegaram a R$ 1,5 bilhão. Parte desse avanço está ligada à nova exigência legal de contratação de determinados seguros, publicada em 2025.
A Resolução nº 6.068/2025 determina que a ANTT passe a fiscalizar ativamente, além do tradicional RCTR-C (Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Carga), também os seguros RC-DC (Responsabilidade Civil por Desaparecimento de Carga) e RCV (Responsabilidade Civil do Veículo). Agora, transportadoras só conseguem obter, renovar ou manter o RNTRC (Registro Nacional dos Transportadores Rodoviários de Cargas) se comprovarem a contratação das três modalidades.
Nesse novo cenário, a escolha correta da apólice torna-se decisiva. Seguros padronizados ou mal estruturados podem transformar um investimento em um custo perdido. “Contratar o seguro errado é pagar duas vezes: primeiro pela apólice que não cobre a real necessidade da operação e depois pelo prejuízo não indenizado quando o sinistro acontece”, afirma João Paulo, CEO da corretora Mundo Seguro.
Segundo o executivo, o problema muitas vezes nasce na escolha da corretora e no desconhecimento do perfil logístico de cada cliente, o que resulta em apólices com cláusulas incompletas. “Há regiões que exigem coberturas adicionais, seja por histórico de sinistros, seja por exigências do embarcador. Muitas transportadoras descobrem a ausência dessas cláusulas quando o ressarcimento é negado. E aí o prejuízo é imediato, porque a operação fica comprometida e o caixa sofre o impacto”, ressalta.
Exemplos práticos reforçam o alerta. O eixo Rio–São Paulo, que concentra os maiores índices de roubo de carga do país, exige proteções específicas. Já as rotas do Centro-Oeste, vitais para o escoamento de grãos, apresentam vulnerabilidades próprias: longos trechos sem infraestrutura aumentam os riscos em paradas e postos. Operações que envolvem portos ou fronteiras também demandam coberturas adicionais, diante de riscos ligados à armazenagem, fiscalização e circulação em áreas de alto fluxo.
“Não faz sentido tratar como iguais uma entrega urbana de baixo valor e o transporte interestadual de eletrônicos. Cada detalhe, da rota ao tipo de mercadoria, muda completamente a equação do risco e, consequentemente, da apólice”, pontua João Paulo.
Com o aumento dos custos no setor, a personalização deixou de ser diferencial e passou a ser estratégia essencial. O crescimento da demanda e o repasse de despesas mais altas tornam inviável a manutenção de contratos genéricos. “Adequar a cobertura ao perfil real da operação é a única forma de evitar desperdício de recursos e, sobretudo, de se proteger contra prejuízos significativos em caso de sinistros. Nesse contexto, o seguro de carga deixa de ser apenas uma exigência legal e passa a ser um mecanismo essencial para reduzir riscos e proteger a saúde financeira do negócio”, conclui João Paulo.