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Em termos gerais, um seguro-viagem não cobre o segurado em situações de guerra – sendo este considerado um “risco fundamental” e, portanto, excluído em apólices de qualquer ramo de seguro, é o que explica Gustavo Cunha Mello, professor e especialista em gestão de riscos.
O seguro-viagem integra o ramo de “seguro de pessoas” e tem por objetivo garantir aos segurados, durante período de viagem previamente determinado, o pagamento de indenização quando da ocorrência de riscos previstos e cobertos na apólice.
Este seguro deve oferecer, no mínimo, as coberturas básicas de morte acidental e/ou invalidez permanente, total ou parcial por acidente, podendo ser oferecidas outras coberturas, desde que estejam relacionadas com viagem, como, por exemplo, perda ou roubo de bagagem, retorno antecipado, cancelamento da viagem, entre outras situações.
“Quando tem uma guerra, todas as pessoas que estão viajando para aquele país vão dar sinistro ao mesmo tempo, por isso é um risco fundamental”, diz Mello. O segundo ponto, continua o especialista, é que em países em guerra a seguradora fica impedida de conseguir prestar alguns serviços já que, muitas vezes, “não é uma opção dessa seguradora mandar um avião para buscar as pessoas”, uma vez que aeroportos e mesmo espaços aéreos são fechados. “Nenhum avião civil pode entrar e nem quer entrar” em zonas de guerra, porque além de proibidos pelos governos, ficariam suscetíveis a serem atingidos.
A prestação de serviços como um todo acaba sendo impactada, uma vez que toda a infraestrutura do país fica prejudicada – dos aeroportos às comunicações, acrescenta Mello. “A seguradora não consegue atender nessas condições, não consegue se comunicar com os hospitais, com as pessoas e nem com empresas transportadoras para poder ajudar quem está lá no local”.
De acordo com o especialista, riscos fundamentais “não são cobertos em nenhuma apólice porque são tratados pelo Estado”. Nesses casos, quem tem autoridade para enviar aviões e repatriar os brasileiros é o próprio Estado brasileiro com a autorização dos governos dos países envolvidos no conflito.
O que pode acontecer, continua Mello, são as empresas privadas (seguradoras e demais corporações que operam com seguro e assistência viagem) contribuírem com consulados e embaixadas na organização de filas de espera para o retorno com aviões da FAB (Força Aérea Brasileira), por exemplo. “Eles dão algum apoio mantendo a família informada aqui e ficam acompanhando e servindo de ponte para falar com a família aqui ou para falar com a embaixada, mas não que a seguradora vai desembolsar ou pagar um transporte para isso”, exemplifica.
Como as seguradoras atuam no conflito Israel x Hamas
Apesar de a guerra ser um risco excluído no seguro-viagem, como explica o especialista, algumas seguradoras optaram por estender algumas coberturas aos segurados. Uma delas é a Coris, que anunciou na segunda (9) a prorrogação gratuita de todas as coberturas vigentes para os clientes que estão em Israel ou com destino ao país. A companhia também está oferecendo suporte logístico e emocional para os grupos que estão no país, através da sua central própria de atendimento.
“Além da prorrogação da apólice, também estamos oferecendo todo apoio necessário aos nossos parceiros agentes e corretores por meio da nossa central de atendimento, mesmo que eles não tenham emitido o seguro da Coris para os seus clientes. Mais do que nunca, é o momento de nos unirmos para trazermos de volta de forma segura e eficaz todos os viajantes brasileiros que se encontram em Israel”, declara Cláudia Brito, sócia-diretora comercial e marketing da Coris Brasil. Desde o início dos conflitos em Israel, a companhia alega ter mantido contato direto com a sua rede credenciada, localizada no Egito.
Em entrevista ao InfoMoney, Claudia diz que as condições normais do seguro-viagem excluem a indenização ao passageiro que tiver a viagem interrompida ou não conseguir viajar porque o local está em guerra. Geralmente a indenização seria utilizada para pagamento das multas – o que não tem cobertura em conflitos.
Contudo, ela conta que “algumas companhias aéreas até estão concedendo o benefício [ao passageiro] de escolher um outro destino, desde que haja essa possibilidade, mas algumas não estão nem retornando para dizer se pode ter isenção de multa ou não. Então, na realidade, os passageiros estão nas mãos das companhias aéreas”, comenta.
Sem citar números, Claudia informa que a central de atendimento da seguradora foi contatada por viajantes questionando os seguintes pontos:
- como poderiam sair de Israel;
- o que fazer caso se machucassem após o período de contratação do seguro acabar;
- pedido de endereço e telefone do consulado para entender o que o governo brasileiro pretendia fazer para auxiliar os brasileiros no local;
- se o bilhete aéreo teria validade.
Ela explica que as coberturas prorrogadas contemplam os atendimentos que não sejam relacionados diretamente à guerra. Ou seja, se o segurado for atingido por estilhaços derivados de armas ou bombas, ele será levado diretamente para o hospital público. “A gente não tem e nem pode ter nenhuma intercedência sobre isso”, pontua. Mas atendimentos por telemedicina, até para um “apoio emocional”, são feitos pela equipe baseada no Brasil – exceto quando há necessidade de prescrição de algum remédio em receita médica. Nesses casos há um operador local que guia o segurado.
Claudia conta que o perfil de quem contrata apólices de seguro-viagem na companhia visando o turismo religioso (que contempla não só viagens a Israel, mas também cidades portuguesas como Fátima e Lourdes, por exemplo) costuma ter faixa etária de 50 anos ou mais e viaja em grupo.
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