Com seu sorriso marcante e olhar delicado, Kelly Lubiato é conhecida por todos do mercado segurador. Há poucas semanas anunciou uma mudança societária e a nova identidade visual da Revista Apólice, que vem apoiando o setor no seu desenvolvimento e acesso para que a proteção seja praticável por toda a sociedade. Acima de tudo, Kelly se dedica às relações interpessoais, à família e à formação de uma vida ética, prazerosa e criativa, na qual conquista diariamente seus sonhos, respeitando sua história e fortalecendo sua cidadania.
Portal Corretora do Futuro: conte sua trajetória profissional até chegar à Diretoria de Redação da Revista Apólice. Foram muitos desafios?
Kelly Lubiato: O primeiro grande desafio da minha vida foi chegar à universidade. Meus pais eram trabalhadores assalariados (fiandeira e ascensorista de elevador), sem primário completo. Mesmo assim, eles sempre nos ensinaram o valor da educação. Estudei em escolas públicas e comecei a trabalhar como datilógrafa aos 15 anos.
Entrei na PUC-SP e comecei a atuar em pequenos estágios, em revistas especializadas em diversos temas. Fiz assessoria de imprensa para eventos culturais, mas gostava mesmo do jornalismo escrito. Fiz um freela para o Jornal do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, e lá conheci o então editor da Revista Seguros & Riscos, Donizetti de Carvalho. Ele me convidou para ser repórter da Revista e, no dia 26 de janeiro de 1994, eu coloquei meu pé neste mercado que tanto adoro. O mercado de seguros naquele momento era muito, mas muito, mais masculino do que é hoje. Uma jornalista jovem era vista com certo desdém no meio. Mas eu não liguei.
Busquei minhas fontes e me dediquei a conhecer o setor. Muitos executivos me ajudaram a conhecer as diversas carteiras e produtos. Assim, em menos de um ano eu assumi a edição da Revista Seguros & Riscos. Entretanto, eu, e outros jornalistas que atuavam na publicação, não estava satisfeita com a condução editorial do veículo e, em julho de 1995, saímos para lançar a Revista Apólice, cujo primeiro exemplar circulou em agosto de 1995.
O caminho como editora da Revista Apólice foi natural, porque eu era fundadora e sócia da publicação. Segui nestes 28 anos ao lado do Francisco Pantoja, um grande amigo e parceiro de negócios. Agora, em janeiro de 2024, ele decidiu seguir novos caminhos profissionais.
PCF: Você chegou a planejar a sua vida pessoal e profissional, conciliando as atividades para alcançar esta posição ou abraçou as oportunidades que foram se abrindo em sua vida? Como foi esta construção?
KL: Na verdade, eu tive a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento do mercado de seguros de forma ímpar. Ao longo dos últimos 30 anos muita coisa aconteceu e estive bem próxima destes eventos. Mas sempre abracei várias oportunidades de fazer coisas diferentes, mas relacionadas ao tema. Fui articulista da revista Conjuntura Econômica, elaborei material de comunicação para grandes corretoras de seguros e seguradoras, além de realizar a cobertura nacional e internacional de muitos eventos.
A vida pessoal acabou caminhando de forma natural. Tive um primeiro casamento, sem filhos, e, em 2004 conheci meu marido (Paulo) e logo em seguida tive minhas filhas Maria Beatriz e Heloísa, que hoje estão com 17 e 13 anos, respectivamente. Pude aproveitar todas as oportunidades graças ao apoio do meu marido (e irmãs e cunhada também).
PCF: Como você costuma conciliar a atenção aos negócios, à vida social e familiar? Conte um pouco sobre sua família, costumes, hobbies e o que gostam de fazer juntos?
KL: Gosto de separar muito bem as coisas. Enquanto estou trabalhando, minha dedicação e concentração é integral, seja no escritório ou na cobertura de algum evento, entrevista etc. Da mesma forma, quando estamos juntos minha dedicação é inteiramente direcionada a eles. Gosto de cuidar, de cozinhar, de fazer roteiros de viagens. Aliás, quando me cansar do jornalismo, devo caminhar para o mercado de turismo (risos).
Temos o hábito de conversar muito e fazer, pelo menos, uma refeição ao dia com todos na mesa. É a oportunidade de discutirmos os assuntos do dia-a-dia, atualidades, política, próximos destinos, fofocas etc.
PCF: Tem alguma espiritualidade? Pratica esportes? O que costuma fazer nos momentos de lazer?
KL: Sou católica de formação, mas pratico do meu jeito, por não concordar com alguns dogmas da religião e o tratamento dado aos clérigos. No esporte, sou praticante de beach tennis, ao qual me dedico com afinco, mas sem avançar muito. Meu tempo de lazer é muito dedicado à praia. Amo ir para a praia, conversar com os amigos durante o dia, na areia, jogar Beach Tennis, depois voltar para casa, fazer um churrasco, tomar um vinho e recomeçar tudo no dia seguinte. Adoro estar com amigos, seja onde for. Valorizo muito as relações interpessoais e amo ver minha casa cheia de gente.
PCF: Você prefere TV ou livro? Indique um filme ou série e um livro que lhe trouxe bons ensinamentos?
KL: Confesso que no tempo livre assisto mais TV do que leio. Para entender como funciona o Brasil, recomendo as séries da Globoplay “Vale o Escrito” e “Os Outros”. Da gringa, adoro The Morning Show (Apple+), que retrata um pouco do que é o universo dos jornalistas. Série para ver sempre e se divertir, sem dúvidas, é Modern Family (Starplus). Um filme que diz muito sobre a minha relação com minhas filhas é Mamma Mia. Não por conta da história em si, mas por ser um musical com canções do ABBA. De uma última leva de filmes, Saltburn e Vidas Passadas são sensacionais.
PCF: Como você avalia esses 28 anos de Apólice e 30 da carreira?
KL: Não foram anos fáceis, mas muito prazerosos. Quando eu, Francisco Pantoja, Ari Martins Cardoso e Fernanda Malavolta nos juntamos para montar a Revista Apólice, achávamos que tudo seria muito fácil. Claro que não foi. Ser empresário é muito diferente de ser jornalista e nós não tínhamos nenhuma experiência administrativa. Com o passar dos anos as coisas foram se acertando e o nosso maior ativo era a credibilidade que confiamos. Apólice é reconhecida como uma publicação séria, independente, que busca informar os seus leitores e sempre trazer novidades.
A minha carreira se confunde muito com a trajetória da Revista Apólice. Por ser editora da publicação, evolui junto com ela e ambas somos reconhecidas como referências no mercado (e nada modestas também).
PCF: Você também desenvolve um trabalho voluntário como mentora no Programa Pulsar. O que isso representa para você em relação à sua contribuição com o desenvolvimento da sociedade?
KL: Este trabalho foi pontual e extremamente prazeroso. Fui convidada por uma jornalista que acabou enveredando pelo caminho social. Recebi muito treinamento e acho que eu aprendi muito mais do que a minha mentorada, principalmente, a exercitar a escuta ativa, uma coisa que, profissionalmente, eu já fazia. Fiquei muito feliz em poder compartilhar estes momentos de troca com uma pessoa que, certamente, vai fazer diferença na sociedade, vencendo desafios gigantescos de sua realidade social. Ver uma pessoa crescer é uma sensação indescritível. Muitos “focas” (jornalistas em início de carreira) já passaram pela redação da Revista Apólice. Todos eles saíram de lá para colocações melhores. Sempre digo que nós somos um trampolim, uma escola, que preza pela boa escrita e pela boa apuração dos fatos. Gosto de ensinar.
PCF: Nosso mercado visa proteger pessoas e patrimônios. Como você percebe que a comunicação pode ajudar nessa missão conjunta?
KL: O mercado ainda se comunica pouco e, muitas vezes, de forma equivocada. Por isso, quero estudar e discutir a melhor forma do setor conversar com a sociedade, para tirar a pecha de aproveitador, de não pagador na hora do sinistro. Sempre que falo que trabalho com seguro alguém tem uma história não muito boa para contar. Por outro lado, sempre que sou consultada, enfatizo o lado bom do seguro, como ele pode ajudar não apenas no momento da perda, mas nas coisas práticas do dia-a-dia. No grupo de mães da escola, de vizinhos do bairro, de amigos da praia, sou sempre aquela que fala: você tem seguro? Sabia que a assistência 24h pode te ajudar com isso? na hora em que as pessoas pedem indicação de encanador, chaveiro etc.
PCF: Você observa que a informação é um direito de todos?
KL: Claro que sim. A informação e o conhecimento são a chave da nossa evolução. O conhecimento é a única coisa que ninguém pode retirar de você e sempre falo isso para minhas filhas, sobrinhos, mentorados etc. E tem mais: como jornalistas, temos a obrigação de transmitir informações de forma clara, simples, inteligível. “A informação se torna conhecimento quando é transmitida”.
PCF: Como você acredita que a Lojacorr apoia o ecossistema de seguros no Brasil na busca pela proteção da sociedade?
KL: Acredito que o tratamento holístico dado ao atendimento da Lojacorr é a melhor forma de acolher os corretores. Há muito tempo sabemos que muitas tarefas realizadas pelas seguradoras, no passado, foram transmitidas aos corretores de seguros, ocupando demais o seu tempo. Ao se juntar a um ecossistema de seguros, os profissionais têm mais oportunidades de trocar experiências e fazer negócios. No passado, eu acreditava que me juntar aos meus pares poderia ser prejudicial ao meu negócio. Hoje, vejo de forma completamente diferente. Vivemos em um mundo em que juntar forças é fundamental para crescer. Seja na comercialização de seguros ou na comunicação do setor. Em um ecossistema como a Lojacorr é possível trocar aprendizados que não estão disponíveis em ambientes onde o conhecimento está disperso.
PCF: O que mais te fascina no âmbito profissional?
KL: Desde a mais tenra idade eu queria ser jornalista. Minha inspiração veio do jornalismo televisivo. Mas, aos poucos, fui me dedicando ao jornalismo escrito e agora, também faço podcasts e apresento programas e eventos. É esta capacidade de mutação que me fascina no jornalismo. Hoje, além de escrever sobre seguros, fazer curadoria de conteúdo, também estou enveredando pela escrita de roteiros. As possibilidades vão aparecendo e cabe a cada um, em seu momento particular, abraçar as oportunidades. Eu sempre falo isso para as pessoas que trabalham comigo.
PCF: Sendo fundadora de um veículo entre os principais especializados do mercado segurador você percebe que pode fazer parte da história de milhares de vidas e famílias diretamente ligadas à sua atuação?
KL: Milhares é muita gente né? É difícil saber o alcance do trabalho que realizamos, mas, fico feliz se souber que fui capaz de levar alguma coisa de bom para uma pessoa que seja. Da mesma forma, acredito na multiplicação das coisas que fazemos e, por isso, tento ser a melhor pessoa possível. Porque se eu transmito coisas boas, estas ondas seguirão em frente.
PCF: Você também é apresentadora e corretora de seguros. Como é essa sua atuação e como você concilia esses afazeres?
KL: O trabalho de apresentadora já está no pacote como jornalista. É apenas um meio diferente para transmitir o meu conhecimento. Agora, a corretora de seguros ainda não aflorou em mim. Fiz o excelente curso da ENS pensando muito mais em saber o que é ensinado para os corretores de seguros e como eles saem preparados para o mercado. O curso, em si, é muito bom e, além dele, a rede de contatos criada entre alunos e professores é sensacional.
PCF: O que você diria para aquele profissional que está começando a carreira, ou que já está estabelecido, mas sonha em crescer profissionalmente?
KL: Hoje, com o volume de informações que o mercado dispõe, é impossível operar em todas as carteiras sozinho. Há uma infinidade de produtos, condições, particularidades que, caso o profissional não tenha conhecimento sobre eles, pode passar a imagem de certa incompetência para o segurado, que irá atrás de outro corretor. Acredito que quem está começando deve investir em nichos específicos e em parcerias. A especialização traz a excelência, o que abre as portas para a atuação em outras carteiras, porque o corretor começa a ter a confiança do segurado.
Como vivemos em um mundo em que as pessoas prezam pela experiência, um segurado satisfeito vai confiar ao corretor outras proteções. Neste momento, é fundamental que o corretor tenha parcerias com outros corretores (ou com grupos) para oferecer as soluções que os clientes necessitam, não as que os corretores querem vender. Ficou para trás o tempo em que o corretor pegava seu portfólio e saía vendendo para quem quer que fosse. Hoje, o consumidor quer ter o seu consultor, alguém que o conheça a fundo e que seja capaz de identificar no mercado as melhores alternativas, seja em termos de custo ou de coberturas. O corretor de seguros tem ouro nas mãos quando conquista a confiança do seu cliente.
PCF: Como você vê o futuro do mercado da comunicação em seguros?
KL: A comunicação é a chave para o desenvolvimento do mercado de seguros. E não estou dizendo isso para advogar em causa própria. Tanto o Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros, formulado pela CNseg, quanto a nova Lei Especial dos Contratos de Seguro (29/2017), que está para ser aprovada no Senado Federal, destacam a importância da comunicação para que o mercado possa crescer e atingir novos consumidores.
Não basta falar que o mercado de seguros é um instrumento de poupança, que tem seu lado social acionado no momento do sinistro. O setor precisa ter uma comunicação que seja clara, que qualquer pessoa tenha capacidade para entender as condições de um contrato, que saiba – na hora da contratação – exatamente o que está adquirindo. Cito um exemplo: eu ativei o seguro viagem que vinha junto ao meu cartão de crédito. Coloquei meus familiares como dependentes etc. Segui todas as recomendações. Tive um problema com cancelamento de voo, comprei outra passagem e pensei: o seguro vai cobrir. Ledo engano. Eu não tinha lido todas as cláusulas e, mesmo tendo comprado a passagem com cartão adicional ao titular, não tive cobertura. Ou seja, são muitas condições às quais a gente não se atenta no momento do aperto, e faz besteira. Agora, se eu faço isso, imagina a grande maioria da população?
PCF: Temos falado muito sobre o futuro e as habilidades que precisamos ter e desenvolver para estarmos preparados para ele. Na sua visão, como pensar no futuro, avaliando cenários e tendências, construindo empresas perenes para a sociedade?
KL: Não podemos pensar nas empresas apenas pela ótica do negócio. É preciso pensar em como podemos contribuir para termos uma sociedade mais justa e melhor, diminuindo o abismo social. Temos que pensar em como o mundo está evoluindo e o que podemos fazer para diminuir o impacto ambiental do nosso negócio. As mudanças climáticas, o aquecimento global são temas que devem fazer parte de todas as discussões. O programa para o meio ambiente da ONU dá dicas importantes, de coisas que todos nós podemos fazer, como: pressão política, mudar meio de transporte, consumir menos energia, adaptar a dieta para o consumo de mais produtos vegetais, não desperdiçar comida e valorizar os produtores locais, entre outras coisas. Estamos falando de coisas que todos nós podemos fazer. É um exercício contínuo de cidadania.
PCF: O que devemos e podemos fazer juntos para apoiar nessa construção?
KL: Devemos olhar para o outro. Vivemos em uma sociedade autocentrada e ligada apenas em telas. Não é possível que as pessoas não se comovam com a pobreza extrema ou com a diferença social. Como sociedade, temos que lutar para que todas as pessoas tenham as mesmas condições, que possam se alimentar, estudar e evoluir. Quando todos crescem, o mundo fica melhor.