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Protagonismo

Seguros e ESG: o papel do setor na sustentabilidade

Dados atualizados mostram como as seguradoras se tornam protagonistas na transição para uma economia mais responsável e resiliente

ESG no setor segurador

O avanço da agenda Ambiental, Social e de Governança (ESG) coloca o setor de seguros em um papel de crescente protagonismo na construção de uma economia global mais sustentável. 

As seguradoras enfrentam o desafio de gerir riscos cada vez mais complexos, decorrentes de transformações climáticas e sociais, mas também exercem influência decisiva como investidoras institucionais, direcionando capital para um futuro resiliente. 

O duplo papel das seguradoras: gestão de riscos e investimentos estratégicos

O setor segurador, por sua natureza, está posicionado de forma única para influenciar e responder à agenda ESG. As seguradoras atuam, por um lado, como subscritoras de risco, avaliando e precificando os impactos de eventos climáticos extremos, desafios sociais e falhas de governança. 

Por outro lado, como detentoras de vastos portfólios de investimento, têm o poder de direcionar capital para iniciativas e empresas que demonstram um forte compromisso com a sustentabilidade. No Brasil, por exemplo, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) já destacou que os ativos do setor equivalem a cerca de 25% da dívida pública brasileira, evidenciando seu potencial de investimento em ativos “verdes” ou “de impacto”.

Pilar Ambiental (E): precificando riscos climáticos e incentivando a transição verde

A crise climática impõe desafios sem precedentes, e o pilar ambiental do ESG é central para as seguradoras. As perdas globais seguradas devido a catástrofes naturais atingiram a cifra de US$ 118 bilhões em 2023, segundo dados do Swiss Re Institute, e alcançaram US$ 137 bilhões em 2024, conforme o mesmo instituto, mostrando a urgência. Essa realidade torna o desenvolvimento de modelos de risco mais sofisticados e a criação de produtos que incentivem a resiliência climática. 

O mercado global de seguros para energias renováveis, por exemplo, foi avaliado em US$ 18,6 bilhões em 2024 e projeta-se que alcance cerca de US$ 28 bilhões até 2034, segundo o Market Research Future, refletindo o apoio do setor à transição energética. Seguradoras também estão progressivamente desinvestindo de indústrias com alto índice de carbono e ampliando o seguro para projetos de infraestrutura verde.

Pilar Social (S): inclusão, bem-estar e ética nos negócios

No âmbito social, as seguradoras têm a oportunidade de promover a equidade e o bem-estar. Isso inclui o desenvolvimento de seguros inclusivos, desenhados para atender às necessidades de populações de baixa renda ou vulneráveis, ampliando o acesso à proteção financeira. Internamente, a promoção da diversidade, equidade e inclusão (DEI) nas equipes, o investimento na saúde e segurança dos colaboradores e a garantia de práticas éticas na gestão de dados dos clientes são aspectos necessários. 

Relatórios de sustentabilidade de seguradoras globais e brasileiras, como o da Caixa Seguridade, que reportou mais de 11,7 milhões de contratos ativos em 2024, frequentemente destacam iniciativas voltadas para o pilar social, embora um relatório da Accenture de 2022 tenha apontado que, no Brasil, apenas cerca de 43% das seguradoras consultadas haviam se comprometido com alguma meta de inclusão e diversidade.

Pilar de Governança (G): transparência e solidez corporativa como diferencial

A governança corporativa é um pilar essencial do ESG e um indicador de resiliência e sustentabilidade a longo prazo para as seguradoras. Isso envolve estruturas de gestão de risco transparentes e eficazes, conselhos de administração com supervisão clara sobre as estratégias ESG, políticas de combate à corrupção e conduta ética em todas as operações. 

A Superintendência de Seguros Privados (Susep), no Brasil, tem avançado na regulamentação, como a Circular Susep nº 666/2022, que estabelece requisitos para relatórios de sustentabilidade, incentivando maior transparência e padronização das informações ESG divulgadas pelo setor. Globalmente, uma pesquisa da KPMG de 2024 (EMA ESG Insurance Benchmarking Survey) revelou que, embora a maioria das seguradoras na região EMEA reconheça a necessidade de uma estratégia ESG formal, muitas ainda são motivadas primariamente pela conformidade regulatória.

O poder do capital segurador nos investimentos sustentáveis

Como grandes investidores institucionais, as seguradoras podem exercer uma influência considerável por meio de suas políticas de investimento. Estima-se que o mercado global de investimentos ESG possa crescer de aproximadamente US$ 35 trilhões em 2024 para cerca de US$ 167 trilhões até 2034, conforme a Precedence Research. 

Um relatório da PwC de 2022 projetava que os ativos ESG sob gestão de gestores de ativos globais (incluindo aqueles que gerem fundos de seguradoras) poderiam alcançar US$ 33,9 trilhões até 2026. O direcionamento desses recursos para empresas com sólidas credenciais ESG, títulos verdes, sociais e de sustentabilidade, diminui riscos no portfólio e financia a transição para uma economia mais sustentável.

Oportunidades na jornada ESG do setor

Apesar dos avanços, a integração efetiva do ESG no setor de seguros enfrenta obstáculos. A padronização de métricas e a qualidade dos dados ESG, a complexidade de modelar riscos de longo prazo associados a mudanças climáticas e a necessidade de evitar o “greenwashing” são desafios prementes. 

A mesma pesquisa da KPMG (2024) indicou que 44% das seguradoras na região EMEA ainda não haviam identificado uma solução para apoiar seus esforços de coleta de dados para a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD). No entanto, esses desafios também representam oportunidades para inovação em produtos, maior engajamento com os clientes e o fortalecimento da reputação e da resiliência do próprio setor a longo prazo.