A inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desacelerou em outubro para 0,09%, o menor resultado para o mês desde 1998. Este número, que veio abaixo da projeção de 0,15% do mercado, é mais do que uma boa notícia para o bolso do consumidor: ele representa um alívio na gestão financeira das seguradoras e pode influenciar o preço final dos seguros.
A queda, impulsionada principalmente pelo recuo na conta de luz (-2,39%) devido à menor pressão da bandeira tarifária, afeta diretamente a dinâmica de custos e receitas do setor de seguros, especialmente no que tange às reservas técnicas e à taxa Selic.
Fim do “efeito tesoura” e a gestão de custos
Para as seguradoras, a inflação alta e descontrolada gera o chamado “efeito tesoura”: de um lado, os custos de sinistros (indenizações e reparos) sobem rapidamente; do outro, os prêmios (o preço do seguro) não conseguem acompanhar na mesma velocidade, corroendo a margem de lucro.
Uma desaceleração como a observada no IPCA para 0,09% indica que o aumento nos custos de reparação e reposição de bens (peças de veículos, materiais de construção para imóveis) está mais brando. Isso garante maior previsibilidade no cálculo do valor que a seguradora terá que desembolsar em indenizações futuras, facilitando a precificação dos prêmios de seguros de Automóvel e Residência.
A menor pressão inflacionária diminui o risco atuarial para a seguradora, permitindo que ela faça projeções de sinistralidade mais assertivas e, teoricamente, evite reajustes excessivamente altos para o segurado no próximo ciclo.
Taxa Selic e as reservas técnicas
A conexão mais importante do IPCA com o mercado de seguros reside no impacto sobre a política monetária e o rendimento das reservas técnicas.
As seguradoras são legalmente obrigadas a manter uma grande quantidade de recursos — as reservas técnicas — para garantir o pagamento de indenizações futuras. Este montante é tipicamente investido em títulos de baixo risco, cuja rentabilidade está fortemente atrelada à taxa Selic, a taxa básica de juros da economia.
O cenário de IPCA em desaceleração abre mais espaço para o Banco Central promover cortes na Selic ou mantê-la em patamares estáveis. Inversamente, um cenário de IPCA em alta pressionaria o Banco Central a subir os juros. Portanto, o arrefecimento da inflação, embora positivo para a contenção dos custos operacionais (sinistros), sinaliza para uma menor rentabilidade nos investimentos em Renda Fixa que compõem as reservas.
Se a Selic cai, o rendimento financeiro obtido pelas seguradoras com o investimento de suas reservas também diminui. Para muitas empresas do setor, o resultado financeiro (o lucro obtido com esses investimentos) é essencial para compensar o custo dos sinistros e garantir o lucro líquido.
Em resumo, a desaceleração do IPCA traz um benefício operacional (custos de sinistros mais previsíveis), mas sinaliza um desafio financeiro (menor rentabilidade dos ativos de renda fixa) que a alta administração das seguradoras precisa balancear.
Seguros de Vida e Previdência: menor necessidade de correção
O IPCA também exerce uma função importante em produtos de longo prazo, como Seguros de Vida e, principalmente, Previdência Privada (VGBL e PGBL).
Em muitos planos de Seguro de Vida e Previdência, o IPCA é o índice utilizado para o reajuste anual das coberturas contratadas e das contribuições. Esse mecanismo visa garantir que o valor do capital segurado ou do benefício de aposentadoria não perca seu poder de compra ao longo do tempo.
Com a inflação de apenas 0,09% em outubro, o reajuste necessário para o valor do capital segurado (a indenização paga aos beneficiários) será consideravelmente menor. Isso pode tornar o prêmio anual do Seguro de Vida menos oneroso para o segurado, pois a correção é mais suave.
Nos Planos de Previdência, a rentabilidade dos fundos é tipicamente medida como um spread sobre o índice de inflação (IPCA + X) ou atrelada ao CDI/Selic.
A inflação baixa significa que a meta de rentabilidade real (acima da inflação) é alcançada com mais facilidade, ajudando a preservar o valor dos aportes do investidor de longo prazo.
No entanto, a baixa rentabilidade da Renda Fixa (atrelada à Selic) exige que as seguradoras e gestores de previdência busquem ativamente alternativas de investimento mais diversificadas, como ações e multimercados, para entregar retornos competitivos aos participantes sem depender tanto do rendimento base dos juros altos.