O crescimento mundial está perdendo fôlego à medida que o impacto das tarifas comerciais começa a se refletir nos indicadores. Nos Estados Unidos, os sinais de enfraquecimento surgiram já no início do terceiro trimestre: em julho, a criação de empregos foi de apenas 73 mil postos, e revisões negativas nos meses anteriores reduziram a média trimestral para 35 mil. A expectativa é de que a demanda por mão de obra continue moderando.
Mesmo assim, o PIB americano do segundo trimestre surpreendeu com alta de 3,0%, impulsionado por efeitos temporários no comércio exterior. Isso levou à revisão da projeção anual para 2025 de 1,5% para 1,7%, apesar de uma desaceleração esperada na segunda metade do ano.
Na zona do euro, o crescimento projetado para 2025 foi elevado de 0,8% para 1,2%, também influenciado por exportações antecipadas no início do ano. A assinatura de acordos comerciais entre EUA, UE e Reino Unido reduziu parte da incerteza, mas tarifas setoriais (como no setor farmacêutico) ainda representam risco.
Na China, a previsão de crescimento subiu para 4,8%, embora o índice de gerentes de compras (PMI) industrial tenha caído para 49,3 em junho, indicando perda de ritmo. No restante da Ásia, o fim do “efeito antecipação” das exportações devido a tarifas pode pesar sobre a atividade.
Inflação: tarifas começam a aparecer nos preços
Nos EUA, a inflação já reflete os primeiros efeitos das tarifas. A taxa anual do índice de preços ao consumidor (CPI) subiu para 2,7% em junho, enquanto a inflação “core” avançou para 2,9%, puxada por alta nos preços de eletrodomésticos e móveis. Para 2025 e 2026, a projeção é de inflação média de 2,8% ao ano.
Na Europa, a inflação manteve-se na meta de 2% do Banco Central Europeu (BCE), com serviços ainda pressionados, mas compensados por bens mais baratos vindos da Ásia. Já na China, o CPI voltou a ficar positivo (0,1% em junho), mas os preços no atacado seguem em queda, evidenciando demanda interna fraca.
Política monetária: cortes de juros no radar
O Federal Reserve manteve os juros entre 4,25% e 4,50% em julho, mas a divisão interna no comitê reforça as expectativas de dois cortes ainda em 2025. O BCE, que já reduziu 1 ponto percentual desde janeiro, deve realizar mais um corte até o fim do ano. Na China, o banco central manteve a taxa de recompra reversa em 1,4%, mas pode cortar mais.
Principais riscos para o cenário base
Crise nos mercados financeiros: novas tarifas e falha em fechar acordos comerciais podem acentuar a desaceleração e gerar fuga para ativos de refúgio como ouro e franco suíço.
- Riscos geopolíticos: tensões entre EUA e China, possíveis sanções setoriais e incertezas ligadas a Taiwan mantêm a região asiática sob pressão.
- Risco fiscal: medidas de estímulo e cortes de impostos nos EUA e Europa podem elevar déficits e comprometer regras fiscais.
- Mercado de trabalho: políticas mais restritivas à imigração podem reduzir a oferta de mão de obra e pressionar salários.
- Risco político: mudanças bruscas de política econômica nos EUA e instabilidade na Europa podem afetar a confiança dos mercados.
- Risco de crédito: aumento do crédito privado por instituições não bancárias eleva vulnerabilidades, especialmente em caso de choque de liquidez.
Possíveis surpresas positivas
O crescimento global pode acelerar caso haja flexibilização das tarifas americanas, avanços tecnológicos impulsionando a produtividade, estabilização fiscal e resolução de conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio. Na Europa, os estímulos fiscais e o aumento dos gastos em defesa podem fortalecer a demanda interna.
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Principais pontos
Crescimento
- EUA: dados de julho mostram criação de apenas 73 mil empregos e revisões negativas no trimestre, indicando desaceleração. O PIB do 2º trimestre surpreendeu positivamente (3,0%), mas com distorções comerciais. Previsão para 2025: crescimento de 1,7%.
- Zona do Euro: previsão de alta de 1,2% no PIB de 2025, impulsionada por exportações antecipadas.
- China: previsão ajustada para 4,8%, mas com enfraquecimento na indústria.
- Ásia: risco de queda com fim do impulso de exportações antecipadas devido a tarifas.
Inflação
- EUA: inflação anual prevista em 2,8% em 2025 e 2026. Em junho, alta para 2,7% no índice geral e 2,9% no núcleo, com sinais de repasse de tarifas para bens duráveis.
- Zona do Euro: índice harmonizado (HICP) em 2%, com queda nos preços de bens compensando custos elevados de serviços.
- China: leve retorno da inflação ao território positivo, mas preços ao produtor seguem negativos.
Juros
- EUA: Fed manteve taxa entre 4,25%-4,50% em julho; expectativa de dois cortes até o fim do ano.
- Zona do Euro: BCE pausou em junho após cortes acumulados de 100 pontos-base; previsão de mais um corte até o fim do ano.
- China: PBoC manteve taxa de recompra reversa em 1,4%, mas novos cortes são possíveis.
Principais riscos
- Crise nos mercados financeiros: novas tarifas e negociações comerciais incertas podem agravar desaceleração e gerar fuga para ativos de refúgio.
- Geopolítica: riscos ligados a tarifas sobre setores específicos (como farmacêuticos), tensões EUA–China e conflitos em andamento.
- Fiscais: possíveis aumentos expressivos de déficits nos EUA, Alemanha e Reino Unido.
- Mercado de trabalho: políticas de imigração restritivas podem elevar pressões salariais.
- Política: mudanças abruptas de políticas nos EUA e incertezas na Europa.
- Crédito: aumento da exposição a ativos alternativos por instituições não bancárias, com risco de liquidez em cenário adverso.
- Cenário positivo: recuo nas tarifas, avanços tecnológicos, estabilização fiscal e resolução de conflitos.