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Estudo

Grandes riscos nos Transportes Brasileiros

29 grandes riscos estão divididos em seis categorias: ambiental, ambiente de negócios, econômica, geopolítica, social e tecnológica

Imagem: Adobe Stock
Imagem: Adobe Stock

Em recente edição do programa Panorama do Seguro, o economista Francisco Galiza abordou um estudo da CNT (Confederação Nacional dos Transportes) que fala sobre os riscos dos transportes brasileiros. Segundo o sócio da Rating de Seguros, o estudo intitulado “Análise dos Grandes Riscos do Setor de Transportes” identificou 29 grandes riscos, divididos em seis categorias: ambiental, ambiente de negócios, econômica, geopolítica, social e tecnológica, a partir de uma consulta com especialistas do setor.

O estudo

Foram identificados eventos que podem causar, por exemplo, dificuldades na gestão e na operação das empresas de transporte e danos a infraestruturas e sistemas estratégicos. Para tanto, foram ouvidos os membros de instituições de representação do setor, que, com base em sua larga experiência, avaliaram a probabilidade de ocorrência das ameaças levantadas e as suas possíveis consequências, a partir da qual foram definidos os seus níveis de risco.

Com esse trabalho, a ideia da CNT é indicar quais fenômenos representam potencialmente grandes riscos para o adequado desempenho do transporte e da logística no Brasil. 

Em linhas gerais, é preciso desenvolver no país uma cultura de gestão de grandes riscos, com estruturas permanentes de identificação e monitoramento das potenciais ameaças. Deve-se, assim, aumentar o estado de preparação do setor de transporte e do poder público, que devem atuar de forma coordenada para mitigar os fatores que causam os riscos, ao mesmo tempo que se adequam aos seus impactos. É o contrário, portanto, de agir de forma apenas reativa, depois de o risco já instalado.

Um aspecto que chama a atenção nos resultados do estudo é o fato de o setor de transporte e logística considerar-se mais bem preparado do que o poder público para responder aos riscos, em particular aqueles relacionados ao ambiente de negócios e de natureza social e tecnológica. Aponta-se, ainda, a necessidade de capacitação de um corpo técnico permanente, na administração pública, especializado na gestão e no acompanhamento dos riscos.

Em destaque

O estudo identificou e analisou 29 grandes riscos que podem impactar o setor de transporte e logística no país, divididos em seis categorias: ambiental, ambiente de negócios, econômica, geopolítica, social e tecnológica. Para tanto, a Confederação consultou representantes do setor, que avaliaram a probabilidade de ocorrência dos eventos e o possível impacto das suas consequências. A partir disso, foram definidos os níveis de risco. 

O presidente da CNT, Vander Costa, ressalta que é preciso levar em conta que o mundo passou por significativas transformações nas últimas décadas: novos hábitos de consumo, evoluções tecnológicas e mudanças nos cenários econômico e político. Tais aspectos nos trouxeram a realidades extremamente complexas e suscetíveis a incertezas e a eventos de grande impacto. “Nesse contexto, a competitividade dos negócios depende de uma série de decisões e estratégias em relação ao futuro, visto que todas as empresas operam expostas a algum grau e tipo de risco”, observa Vander.

Ele destaca, ainda, que o setor de transporte e logística não é exceção à regra. “A atividade transportadora permeia todas as demais e impacta diretamente as cadeias de suprimento e o desenvolvimento do país, estando sujeita à influência dos ambientes nacional e internacional”, conclui.

Predominaram, nos maiores níveis de ameaça, segundo os representantes consultados, os riscos nas categorias relacionadas ao ambiente de negócios, sociais e econômicas. Destaca-se, porém, que todos os riscos identificados no estudo teriam um impacto significativo caso ocorressem, pois em todos eles as somas dos percentuais de avaliações de níveis de risco “Extremo” e “Alto” foram superiores a 50%.

Dado o exposto, apresentam-se a seguir as ameaças identificadas nas 10 primeiras posições do ranking de níveis de risco.

Ranking dos 10 principais riscos

PosiçãoRiscoCategoria 
1Alterações ou insuficiências nas políticas legais, normativas, tarifárias, fiscais e/ou tributáriasAmbiente de negócios
2Crime organizado nacional e/ou transnacionalSocial
3Escassez de mão de obra qualificadaSocial
4Eventos climáticos extremosAmbiental
5Excesso de entraves burocráticos, jurídicos, administrativos e/ou técnicosAmbiente de negócios
6Instabilidade econômica global, regional ou nacionalEconômico
7Dificuldades ou insuficiências no acesso a fontes de investimento e/ou de acesso ao créditoEconômico
8PandemiasSocial
9Crime e/ou conflito cibernéticoTecnológico
10Aumento de custos em decorrência de ações ambientaisEconômico

Principais conclusões

Ressalta-se, na percepção dos representantes do setor, um maior potencial de impacto decorrente de alterações em leis e normas, com eventuais sobrecargas em termos de tarifas e tributos. Tem-se, assim, uma falta de previsibilidade no planejamento e uma quebra de expectativa em relação ao retorno dos investimentos.

O roubo de cargas, por sua vez, tem tomado proporções cada vez maiores e agravado o problema no setor, com ataques cada vez mais ousados do crime organizado. O roubo de cargas tem afetado não só o segmento rodoviário de cargas, como também os modos ferroviário e aquaviário — neste, tanto na navegação interior quanto na marítima.

A escassez de mão de obra qualificada, com as competências técnicas e operacionais necessárias às demandas do setor, é um risco que já se manifesta em diversos segmentos.  

Os riscos ambientais vêm impactando de forma crescente os negócios no transporte, com a ocorrência, por exemplo, de eventos climáticos extremos e desastres naturais. Eles podem afetar de forma particular as infraestruturas e sistemas, a exemplo do aumento do nível do mar em áreas portuárias e dos desabamentos de terra, altas temperaturas e queimadas, provocando estragos nas infraestruturas rodoviária e ferroviária.

Por fim, foram compiladas, no estudo, diretrizes e orientações de melhoria para a gestão dos riscos, a exemplo das seguintes:

  • Ampliação da abordagem dos instrumentos de planejamento existentes para todas as categorias de riscos, e não apenas para infraestruturas e demais ativos físicos. 
  • Criação de estrutura permanente para o monitoramento de riscos relacionados ao setor de transporte e logística. 
  • Desenvolvimento de carreiras e capacitação de pessoal na administração pública para atuar no gerenciamento de riscos.
  • Construção e adequação de infraestruturas e sistemas mais resistentes e resilientes.

“No Brasil, o seguro de transportes faturou quase R$ 6 bilhões em 2022. Ou seja, essa é uma leitura obrigatória para quem trabalha na área”, indica Galiza. O arquivo completo pode ser baixado em: https://cnt.org.br/documento/8e5b2b5c-d84e-4b87-a0e9-d8c975773258