Por Luana Balbinot
O mercado de trabalho é um ambiente desafiador por si só, mas o que acontece quando suas características pessoais, vivências, comportamento e estética falam mais alto que suas competências profissionais? Para pessoas LGBTQIAP+, sobretudo pessoas trans, isso é uma realidade que impede seu desenvolvimento nos ambientes formais de trabalho.
Antes de tudo, é importante ressaltar, que é comum colocarem pessoas trans apenas em narrativas de sofrimento, porém, quando conseguimos espaço ainda é necessário que falemos de temas, que apesar de muita luta, ainda tem pouca visibilidade, como é o mercado de trabalho para a população LGBTQIAP+.
A propósito, atualmente, a sigla mais usada para contemplar orientações sexuais e diversidade de gênero é a LGBTQIAP+, contempla oito variações, além do sinal de mais, que indica outros grupos: lésbicas, gays, bissexuais, trans, queer, interssexuais, assexuais e pansexuais.
Se ainda existem dúvidas sobre as barreiras que esse grupo enfrenta, aí vão alguns dados: segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), apenas 4% das mulheres trans têm acesso ao emprego formal e 6% delas ao trabalho informal. Já uma pesquisa recente do Linkedin revela que 43% dos entrevistados LGBTQIAP+ já sofreram discriminação no ambiente de trabalho. Número que é confirmado pelos entrevistados heterosexuais que possuem colegas da comunidade, onde 53% já presenciaram ou ouviram alguma situação discriminatória com membros do grupo LGBTQIAP+.
Na busca por um emprego é difícil saber se os critérios utilizados por recrutadores são discriminatórios. Porém, quando você é chamada para muitas entrevistas, passa por diversas etapas e tem suas qualidades profissionais validadas, como seu currículo e portfólio, você começa a desconfiar que os critérios estejam contaminados com preconceito.
A solução para o problema da discriminação no ambiente de trabalho, na visão de uma mulher trans, passa por muitas etapas, desde o acesso a educação e capacitação para pessoas LGBTQIAP+, treinamento de funcionários, politicas internas, vagas afirmativas, repreensão de atitudes discriminatórias e acolhimento e suporte a suas vítimas. Mas a característica fundamental é a humanização das pessoas da comunidade, nós somos pessoas com família, contas a pagar, pets, qualidades, defeitos, alegrias e tristezas, tudo o que uma pessoa cisgênero e heterossexual possui. O que buscamos é ter acesso ao mercado de trabalho formal e que sejamos respeitados para assim termos recursos para manter a nossa dignidade.
Dentro da Lojacorr, eu fui a primeira funcionária assumidamente trans a ser contratada. Nesse período eu recebi apoio e segurança na minha entrada, sempre fui respeitada e ouvida, além de me sentir genuinamente incluída pelos meus colegas de trabalho. Nesse mês do orgulho o meu desejo é que mais pessoas da comunidade, especialmente trans, tenham a oportunidade de entrar em empresas que as acolham, assim como eu fui acolhida. Mas também que quando contratadas, elas não sejam as únicas, que as empresas continuem a promover a diversidade e a inclusão como políticas na sua empresa.
Luana Balbinot é formada em Design Digital, com especialização em Produção em Cinema pela PUCPR. Possui experiência em produção audiovisual, captação e edição de vídeos, motion graphics, além de ilustração e criação de peças gráficas. Trabalhou em equipes de marketing digital, produção de vídeo, canal interno de televisão, social media e growth.