Mais do que uma simples tendência, o ASG está no coração do conceito de seguros. Isso porque a própria missão do seguro nas famílias e empresas é trazer proteção hoje e no futuro. Ou seja, sustentabilidade para negócios e para a vida das pessoas.
Pensando nisso, a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg) criou uma Comissão de Integração ASG. Após um levantamento de dados, a entidade verificou que 93,5% das seguradoras que integram o relatório de sustentabilidade do setor de seguros de 2022 adotam as questões ASG em seus planejamentos estratégicos. Para a presidente da Comissão, Fátima Lima, que também é diretora de sustentabilidade da MAPFRE, isso significa um modelo de negócio mais sustentável.
Na entrevista abaixo à Corretora do Futuro, ela explica que um dos desafios do mercado de seguros é integrar o ASG no processo de análise e subscrição de riscos, na regulação de sinistros, na gestão de salvados e na inovação para criar melhores soluções em produtos e serviços. Leia na íntegra abaixo:
Corretora do Futuro – Como as seguradoras podem adotar o ASG na prática?
Fátima – Vivemos em um mundo em plena transformação socioambiental e a integração das questões ambientais, sociais e de governança (ASG) nos negócios é um dos mais importantes desafios globais para empresas, governos e sociedade.
Esse olhar estratégico a partir de um contexto mais amplo, que envolve não apenas o desempenho econômico-financeiro, mas considera aspectos ambientais, climáticos, sociais, reputacionais e de governança tem ganhado cada vez mais força no ambiente corporativo de forma geral.
Mas essa não é uma jornada fácil, porque pressupõe que pessoas e organizações saiam da sua zona de conforto e pensem além daquilo que estão habitualmente acostumados a entregar. Ou seja, não basta adotar iniciativas de sustentabilidade, sem integrar de fato esses critérios ao processo decisório.
No mercado brasileiro de seguros, essa agenda é estruturada e coordenada pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), que possui uma Comissão de Integração ASG da qual sou presidente, que promove a integração das questões ASG nas operações do setor de seguros e de sua cadeia de valor com a geração de conhecimento e o estabelecimento de compromissos setoriais.
De acordo com dados da entidade, 93,5% das seguradoras que integram o relatório de sustentabilidade do setor de seguros de 2022 adotam as questões ASG em seus planejamentos estratégicos, contribuindo para um modelo de negócio mais sustentável.
As seguradoras devem incorporar as questões ASG em suas decisões de investimento e subscrição de seguros, oferecer produtos de seguro que incentivam práticas sustentáveis, identificar e quantificar os riscos ASG em suas operações e portfólio de investimentos, publicar relatórios anuais que detalham o desempenho ASG da empresa, incluindo métricas e treinamento aos colaboradores sobre questões que envolvem o tema ASG para aumentar a conscientização e a compreensão.
Corretora do Futuro – E para corretores, quais as dicas práticas de como iniciar essa jornada?
Fátima – A integração das questões ASG nos negócios e na estratégia das empresas, independentemente do setor de atuação ou porte, é um dos grandes marcos do processo de evolução mundial. E esse movimento foi impulsionado, principalmente, por uma demanda dos consumidores.
A escolha por produtos e serviços mais sustentáveis faz parte das escolhas de clientes mais conscientes e de uma nova geração mais propensa a optar por empresas e serviços sustentáveis, que produzam menos impacto e que contribuam para um futuro mais consciente. Não apenas os consumidores, mas os investidores e a sociedade em geral também estão exigindo um novo olhar para os negócios, novas soluções em produtos e serviços e níveis cada vez mais altos de responsabilidade e transparência por parte das empresas.
Nesse cenário, o corretor pode ser o grande ator dessa transformação, pois ele é o principal elo entre a seguradora e seu cliente, ou seja, é ele quem conhece as necessidades e demandas por produtos e serviços que estão cada vez mais batendo à nossa porta.
Além disso, como parceiros de negócios, os corretores também podem adotar em suas operações práticas ASG semelhantes às que utilizamos em nossa companhia, como reduzir o consumo de energia e recursos em suas operações, promover a diversidade, igualdade e inclusão em suas corretoras, assessorias ou espaços compartilhados com outros profissionais e utilizar políticas e procedimentos que sejam transparentes tanto para clientes quanto para colaboradores e parceiros.
Corretora do Futuro – Qual a relação entre ASG e prevenção de riscos?
Fátima – Enquanto gestor e tomador de riscos, o setor de seguros está naturalmente atento aos riscos que emergem a partir de aspectos ASG e são capazes de modificar as condições, frequência e severidade dos itens cobertos por soluções de seguros. Por isso, muitas seguradoras já vêm se estruturando há algum tempo para lidar com as questões ambientais, sociais e de governança, mantendo-se atentas à agenda ASG e ao impacto dos fatores socioambientais e corporativos nos negócios.
Um dos desafios do mercado de seguros é entender como os temas ASG podem ser integrados no processo de análise e subscrição de riscos, na regulação de sinistros, na gestão de salvados e na inovação para criar oportunidades em seus produtos e serviços.
Isso porque os negócios e a sinistralidade serão impactados se os fatores ASG não estiverem integrados à estratégia da empresa. A forma tradicional de subscrever um risco precisa ser ampliada para uma visão 360o, que permeia todo um ecossistema de riscos que ainda não são totalmente explorados ou cobertos pelas empresas.
Em outras palavras, o mercado precisa entender que as questões ASG podem ser vistas como riscos, mas também devem ser consideradas como grandes oportunidades. Esse é o grande desafio atual: olhar para esses novos riscos como um vetor para a melhoria de processos e uma oportunidade de inovação.
As mudanças climáticas já afetam economias importantes, a transição para uma economia de baixo carbono está fazendo com que novos mercados surjam e outros desapareçam e as empresas precisam estar preparadas para esses novos riscos, que por sua vez também geram grandes oportunidades.