Essa semana vi uma foto minha de um ano atrás. Eu estava mais musculoso. Aquilo me fez parar por alguns segundos. Não por vaidade, nem por nostalgia daquele corpo, mas porque aquela imagem marcava um momento diferente da minha vida.
Naquele período, a corretora era menor. As demandas eram mais previsíveis. O volume de decisões, de responsabilidades e de estímulos era outro. Havia mais tempo — ou, pelo menos, a sensação de mais tempo. Meu foco estava mais direcionado aos treinos, ao cuidado com o corpo e à rotina física.
Não trago essa imagem como lamento. Trago como referência. Ela marca uma fase em que o tempo era alocado de outra forma. E tempo, pra mim, sempre foi ativo. Sempre foi uma escolha consciente de onde investir energia.
À medida que a corretora cresceu, a vida mudou de eixo. Vieram novas responsabilidades que fazem parte do jogo: o Instagram da corretora, viagens para congressos, a coluna semanal na Lojacorr, participações em lives, parcerias mais intensas com seguradoras. Além disso, existe um trabalho estratégico que acontece fora do horário comercial — quando o telefone silencia e a cabeça finalmente consegue pensar o negócio como um todo.
Tudo isso exige energia. E energia é um recurso finito. Naturalmente, comecei a gastar mais energia no profissional e menos na qualidade dos treinos. Sempre enxerguei isso como fase. Um ajuste necessário. Uma readequação para sustentar o crescimento.
Até que um ponto de atenção ficou claro demais pra ser ignorado. Treinar ao meio-dia ou no fim da tarde deixou de funcionar. As demandas se tornaram imprevisíveis. O telefone não parava. Eu já não conseguia treinar por inteiro. Estava na academia, mas com a cabeça no trabalho.
Isso começou a gerar uma ansiedade específica: a sensação constante de não estar totalmente presente em nenhuma das duas coisas. Quando eu treinava, o trabalho seguia ocupando a cabeça. Quando trabalhava, ficava a percepção de que o treino não tinha sido bem feito. Não era falta de comprometimento com nenhum dos lados. Era um modelo de rotina que já não comportava mais aquelas escolhas de horário. A energia estava fragmentada, e isso cobrava um preço.
A solução foi prática — e dura. Passei a treinar às cinco da manhã, acordando às 4h40. Não por romantização. Por necessidade. Era o único horário em que eu tinha controle total do meu tempo.
O treino mudou. A força não é a mesma. A intensidade não é a mesma. Mas ganhei algo que não tinha antes: previsibilidade. Criei um novo espaço na rotina. Ganhei tempo.
Treinar cedo me colocou num ponto de autocuidado antes de qualquer demanda externa. Antes do telefone tocar. Antes de clientes, mensagens, problemas e decisões. Era um tempo protegido. Sem disputa de atenção.
Com isso, algo simples passou a fazer diferença: comecei a ver o sol nascer todos os dias. Isso virou referência. Hoje, quando não começo a manhã assim cedo, sinto falta. Não apenas pelo treino em si, mas pelo estado mental que ele cria. A sensação de começar o dia fazendo algo por mim, antes de começar a resolver o mundo.
Ver o sol nascer passou a representar equilíbrio. Não no sentido de performance máxima, mas de direção. De começar o dia alinhado, e não apenas reagindo.
Hoje, tenho menos massa muscular e treinos menos intensos. Isso não é descuido. Foi escolha. Nesse período, meu foco foi prosperar a corretora, dar estrutura e sustentar crescimento. Mas sem abrir mão completamente do equilíbrio.
E equilíbrio, pra mim, nunca foi manter tudo no mesmo nível. Equilíbrio é observar, ajustar e corrigir rota.
Existem fases de mais estresse. Fases em que percebo que estou bebendo um pouco mais do que costumo — e eu costumo beber pouco. Assim como percebo quando treino sem intensidade ou como mais do que o habitual. Eu observo esses sinais. Não ignoro, mas também não dramatizo. Dou margem por um tempo, com atenção e limite.
Até perceber o ponto de ajuste. A partir daí, faço correções: como melhor, treino com mais intenção, reorganizo a rotina. É um processo constante de recalibrar a bússola.
Crescer dói. E é uma dor complexa. Envolve dúvida, cansaço, vontade de reduzir ritmo e, às vezes, de buscar o conforto de uma fase anterior. Mas crescer exige força. E exige equilíbrio.
Propostas tentadoras surgem o tempo todo. Problemas aparecem sem aviso. Muita coisa tenta te tirar do propósito e te desviar do caminho que você escolheu seguir.
Por isso, a pergunta central não é sobre corpo, agenda ou rotina. É sobre direção. Qual equilíbrio você está buscando agora? O que você está disposto a abdicar hoje para sustentar quem você quer ser daqui a um, três, cinco anos?
No fim das contas, tempo é ativo. Escolhas são estratégia. E equilíbrio é a bússola que mantém tudo apontado para o lugar certo.