Você provavelmente já escutou que a ansiedade é o mal da atualidade e que os brasileiros estão entre as nações mais ansiosas. Entre os fatores identificados para o crescimento da ansiedade nos brasileiros estão o desemprego, violência e oscilações da economia. Um mapeamento global da OMS revela que 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica.
E o que isso tem a ver com as organizações? Tudo, segundo a psicóloga Carolina Quintino (CRP 08/13621), sócia da EmSi Psicologia para Empresas, que realiza um acompanhamento terapêutico especializado com colaboradores de empresas. Está em ascensão a ansiedade por desempenho. Entretanto, o que Carolina destaca é que não tem sido frequente a patologia apenas em estudante de vestibular e concursos, mas também por profissionais de diversos setores.
Segundo a especialista, a ansiedade de desempenho pode se manifestar em diferentes contextos: estudos, trabalho, apresentação (seja presencial ou remota), provas (teórica ou prática, como o caso do teste para obter a CNH). “Geralmente pode gerar prejuízo na vida da pessoa, pois, na maioria das vezes, se tem o conhecimento, no entanto a ansiedade acaba desorganizando, paralisando o comportamento e/ou gerando fuga/esquiva do enfrentamento, consequentemente o resultado esperado fica comprometido”, explica.
Aumento da ansiedade
O filósofo chamado BYUNG-CHUL HAN, escreveu o livro Sociedade Cansaço. Nele lista algumas hipóteses que têm influenciado as doenças mentais como depressão, ansiedade e dentre outras. Ele chama o momento atual de Sociedade Neurológica, pois:
- O movimento das pessoas se tornarem empresárias de si mesmas (autopunição, o campo de trabalho Interno e não mais externo – a tecnologia viabiliza levar o trabalho em todos os lugares);
- Atenção rasa/flutuante (excesso de estímulos, notificações), comprometendo a memória;
- Positividade tóxica (você consegue/só depende de você – deixando de fazer uma análise contextual).
Esses eventos, de acordo com Carolina, estão influenciando no aumento da ansiedade. Sem deixar de mencionar, é claro, o grande alerta biológico, psicológico, financeiro e social que a pandemia gerou. “Observo que não é exclusivo deste ano. No entanto, outras queixas associadas, tais como: dificuldade de atenção e memória, tem interferido em deixar as pessoas em alerta quanto ao seu desempenho”, conta.
Sinais de alerta
Além das pressões socioeconômicas, há também outros fatores que podem contribuir com o aumento da ansiedade na população. Entre eles estão: baixa qualidade de vida e pouco acesso à saúde, seja ela física, mental e social.
Dessa forma, é importante ficar vigilante quando a pessoa começa a perceber os prejuízos em sua vida, não expressa as suas opiniões, reduz o desempenho, se isola e possui desconfortos físicos. Ao rastrear os motivos dos prejuízos é que se chega à ansiedade. “Todavia, o tempo que a pessoa está com os sintomas também gera uma percepção. Algo como: faz tempo que está com insônia, dor de estômago, dificuldade em completar a respiração, pensamento acelerado e alarmantes”, avisa Carolina.
Como proceder em relação à ansiedade
A saúde é um estado completo de bem-estar que inclui segurança, conforto e satisfação, com suas condições físicas, mentais e sociais. Por isso, para se auto ajudar a melhorar a saúde emocional, é necessário cuidar desta tríade. Na questão biológica, a especialista sugere a ingestão de alimentos de forma equilibrada e saudável. Além de fazer atividades físicas e procurar ajuda médica. E ainda não ter preconceito com medicações psiquiátricas.
Quanto ao emocional buscar o autoconhecimento. Observar se está com algum prejuízo e se sim, buscar um psicólogo. Já na questão social, nutrir uma rede de apoio, buscar atividades de lazer em companhia e estar com pessoas de confiança.
Trabalho e a ansiedade
A ansiedade de desempenho pode estar ou não atrelada às questões profissionais. Segundo Carolina, é bem comum nas empresas as pessoas falarem da síndrome do impostor. A ansiedade pode contribuir para pessoas não reconhecerem suas habilidades. Por isso, é necessário ligar o alerta e não fazer os enfrentamentos necessários, pois isso pode prejudicar o desenvolvimento profissional. “A ansiedade pode paralisar ou desorganizar a expressão dos conhecimentos”, afirma.
Por outro lado, há organizações que têm uma cultura de segurança psicológica na prática e contribuem com o bem-estar de seus colaboradores. “Os líderes também podem construir com os seus liderados etapas do que gera menos desconforto e ir progredindo para o maior desafio. Dessa forma, a pessoa vai dessensibilizando, reduzindo as respostas de ansiedade, aumentando o repertório comportamental e elevando a autoconfiança”, acrescenta Carolina.
Ela considera ainda que quando a empresa tem o benefício da psicoterapia também pode sugerir que essa pessoa busque auxílio psicológico. Além disso, ela inclui que o colaborador faça uma lista das situações que geram ansiedade sinalizando de 1 a 10 a intensidade dos desconfortos dos sintomas e como é possível fazer um enfrentamento progressivo. A pessoa pode também estar em contato com sua rede de apoio e compartilhar com seu gestor e colegas como tem se sentido. “Ninguém precisa se sentir sozinho e poder contar com sua rede é altamente benéfico para quem possui ansiedade”, diz.
Case de sucesso
A Lojacorr, maior rede de corretoras de seguros do Brasil, que está também entre as melhores empresas para trabalhar do país. desenvolve há mais de oito anos o trabalho de psicoterapia como benefício para colaboradores e gestores. São mais de 150 colaboradores e gestores atendidos pela psicóloga Carolina Quintino, que busca mostrar a importância do benefício tanto para a validação do indivíduo como para a saúde da organização e sucesso no atendimento ao cliente.
De acordo com a especialista, a importância do benefício vai além da conscientização pelas causas mentais e emocionais que rodeiam a humanidade. O trabalho de autoconhecimento gera leveza no ambiente de trabalho e na melhoria da qualidade de vida pessoal e profissional do indivíduo, principalmente no trabalho de reversão dos índices brasileiros em relação às questões terapêuticas.