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Riscos climáticos

Mudanças climáticas ampliam prejuízos e desafiam mercado de seguros, mostra estudo

Relatório da MAPFRE aponta que menos da metade das perdas causadas por desastres naturais no mundo têm cobertura de seguro. Especialistas pedem ação conjunta entre governos e seguradoras

Fátima Lima, diretora de sustentabilidade da MAPFRE no Brasil
Fátima Lima, diretora de sustentabilidade da MAPFRE no Brasil

O avanço das mudanças climáticas está provocando prejuízos cada vez maiores e pressionando o mercado global de seguros. É o que conclui um estudo da MAPFRE Economics, que será apresentado nesta terça-feira (18/11) na ‘Casa do Seguro’, durante a programação da COP30 em Belém (PA). O levantamento mostra que menos da metade das perdas econômicas causadas por desastres naturais no mundo têm cobertura de seguro.

Segundo o relatório, intitulado “Mudanças Climáticas,Riscos Extraordinários e Políticas Públicas”, apenas 48% dos prejuízos globais registrados durante o ano de 2024 foram devidamente indenizados. O restante, que equivale a cerca de 191 bilhões de dólares, ficou descoberto, causando prejuízos a pessoas físicas e jurídicas. 

“Os desastres estão se tornando mais intensos e frequentes e, em alguns casos, de dimensão sistêmica”, afirma a diretora de sustentabilidade da MAPFRE, Fátima Lima. “Nenhum governo ou empresa pode lidar com isso sozinho. Fechar essa brecha é um desafio de política pública”, alerta a executiva. 

O relatório aponta ainda que 2024 foi o ano mais quente já registrado, com temperatura média 1,6°C acima dos níveis pré-industriais. O fenômeno El Niño, em intensidade recorde, provocou secas na Amazônia, redução do nível do Canal do Panamá e chuvas extremas em todo o continente americano. 

Esses episódios, somados a ondas de calor, incêndios e tempestades cada vez mais violentas, elevaram o custo dos seguros e aumentaram a incerteza sobre os riscos futuros. “O impacto climático já não é só ambiental, é econômico”, afirma a diretora da MAPFRE. 

De acordo com o estudo, as perdas globais por desastres naturais chegaram a 368 bilhões de dólares em 2024, número semelhante ao de 2023 (397 bilhões de dólares) e 20222 (365 bilhões de dólares). A maior parte veio de eventos de menor intensidade, mas mais recorrentes, os chamados “riscos secundários”, como granizo, vendavais e enchentes, que são fenômenos da natureza comuns no Brasil. 

Brecha maior em países pobres 

A chamada lacuna de proteção, que é a diferença entre o total de perdas econômicas causadas pelas catástrofes e a quantia efetivamente coberta pelos seguros, é mais profunda nos países em desenvolvimento. Na Ásia, apenas 17% das perdas estão seguradas, e na América Latina a proporção é de 19%.  

Em países como o Brasil, o relatório aponta que o crescimento urbano desordenado, a ocupação de áreas vulneráveis e a falta de infraestrutura de prevenção ampliam o impacto das catástrofes. Mesmo na Europa, onde o mercado é mais consolidado, quase 70% dos prejuízos ainda ocorrem sem cobertura. Já a América do Norte e a Oceania apresentam as menores lacunas de proteção do mundo, com 43% e 41% das perdas permanecendo descobertas, respectivamente. 

Para os especialistas da MAPFRE, o avanço do aquecimento global pressiona o setor de seguros de duas formas: eleva o custo das indenizações e torna mais difícil precificar os riscos futuros.“O seguro é um amortecedor importante, mas precisa estar conectado a políticas de adaptação e prevenção para poder ter estabilidade”, explica Fátima, da MAPFRE.  

Ações para reduzir riscos 

O relatório da MAPFRE Economics recomenda que governos e empresas adotem medidas conjuntas para ampliar a cobertura e reduzir vulnerabilidades. Entre as propostas estão parcerias público-privadas, uso de seguros paramétricos, que pagam indenizações automáticas com base em índices climáticos, melhoria dos dados de risco e incentivos à prevenção. 

O estudo também cita o potencial de instrumentos como títulos catastróficos e bônus verdes para financiar ações de adaptação climática e fortalecer a resiliência econômica. “O seguro é uma das principais ferramentas de proteção econômica diante das mudanças climáticas, mas ele precisa fazer parte de uma estratégia integrada”, alerta Fátima.  

A apresentação do estudo na ‘Casa do Seguro’, espaço da CNSeg (Confederação Nacional de Seguros) dentro da COP30, reunirá representantes do setor financeiro, autoridades e especialistas em sustentabilidade, como Ricardo González García, diretor de análise e estudos setoriais da MAPFRE Economics Espanha e coautor do estudo; Vinicius Brand, subsecretário do Ministério da Fazenda; o físico Paulo Artaxo, professor da USP e membro do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climática); Carlos “Cacá” Takahashi, chairman da BlackRock Brasil e vice-presidente da ANBIMA, além da moderadora Mónica Zuleta, diretora corporativa de sustentabilidade da MAPFRE. 

Baixe a íntegra do estudo aqui