O 18º Fórum da Longevidade, promovido pelo Grupo Bradesco Seguros no dia 21 de outubro, levou ao palco do Teatro Bradesco, em São Paulo, três dos mais reconhecidos especialistas brasileiros no tema da vida longa: o médico e gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional da Longevidade (ILC Brasil); a especialista em comportamento financeiro Ana Leoni; e o educador físico Marcio Atalla.
Sob o tema “Longevidade em Movimento”, o encontro reforçou a importância de uma abordagem integrada — física, mental e financeira — para um envelhecimento ativo e saudável.
Kalache: “A revolução da longevidade é a mais rápida da história”
Abrindo o painel, Alexandre Kalache destacou a velocidade inédita do envelhecimento populacional e seus impactos sociais.
“O que a França levou 145 anos para fazer, o Brasil está fazendo em 30”, afirmou, lembrando que o país chegará a 68 milhões de pessoas com mais de 60 anos até 2050, quase um terço da população.
O especialista chamou atenção para a mudança na estrutura familiar — “as famílias estão crescendo verticalmente” — e para o valor simbólico das conexões entre gerações.
“Na infância, eu estava cercado de primos e idosos. É brincando, brigando e ouvindo histórias que a gente aprende a viver, crescer e envelhecer”, disse.
Kalache também trouxe uma reflexão cultural: “Entre os maoris, a palavra mua significa tanto ‘passado’ quanto ‘adiante’. É a ideia de que o passado está à nossa frente, nos guiando — e não atrás, como algo obsoleto.”
Para ele, a longevidade deve ser encarada como movimento biológico, social e emocional.
“Alguém com 45 ou 50 anos hoje está apenas na metade da vida. E quem tem 60 ainda tem um terço dela pela frente”, completou.
Ana Leoni: “Dinheiro é meio, não fim — e deve servir à vida que queremos viver”
Com uma palestra repleta de histórias e metáforas, Ana Leoni propôs uma visão mais humana das finanças pessoais, especialmente na maturidade.
“Eu não vim falar de dinheiro, vim falar de vida. Quando entendemos que o dinheiro é um meio para realizar o que queremos, passamos a olhar para ele de outra forma”, disse.
A economista ressaltou que a longevidade financeira exige autoresponsabilidade e planejamento contínuo, sem transferir decisões a terceiros.
“Ninguém é responsável pela nossa vida financeira além de nós mesmos. Não é o Estado, nem o chefe, nem os filhos — é a gente”, afirmou.
Ao abordar o conceito de gerontologia financeira, Leoni destacou a importância de pensar a vida em ciclos.
“A vida financeira é um processo. A gente precisa aprender não só a acumular, mas também a usar bem o dinheiro, com propósito e liberdade”, completou.
Em tom inspirador, ela lembrou que o envelhecimento é heterogêneo e que as escolhas do presente definem o futuro: “Cuidar da nossa saúde financeira é cuidar do nosso futuro ‘eu’. E essa é uma janela curta — quanto antes começamos, mais autonomia teremos.”
Marcio Atalla: “A qualidade de vida depende de pequenas mudanças diárias”
Encerrando o painel, Marcio Atalla provocou a plateia a refletir sobre o paradoxo contemporâneo:
“Nunca tivemos tanta informação sobre saúde — e nunca estivemos tão sedentários e estressados.”
Segundo ele, o estilo de vida é o principal determinante da idade biológica.
Atalla destacou que o ambiente moderno nos induz ao sedentarismo, à má alimentação e ao sono insuficiente — fatores que aceleram o envelhecimento.
“Temos um corpo moldado para o movimento, mas um cérebro programado para a recompensa. É preciso criar o hábito até ele se tornar automático, inconsciente”, explicou.
Para ilustrar, contou a história de um amigo que transformou sua saúde ao incorporar caminhadas curtas à rotina:
“Ele criou o ar. Pequenas mudanças sustentáveis são o verdadeiro segredo da longevidade ativa.”
Ao defender políticas públicas que estimulem o bem-estar, Atalla lembrou o exemplo da Coreia do Sul, que conseguiu aumentar a expectativa de vida em quase dez anos desde a década de 1970 por meio de educação e incentivo à atividade física.
“O Brasil precisa seguir por esse caminho, reduzindo a dependência ao fim da vida. O objetivo não é viver mais, é viver melhor”, concluiu.
Fórum consolida legado de 18 edições
Realizado desde 2007, o Fórum da Longevidade Bradesco Seguros é um dos principais espaços de debate sobre envelhecimento ativo no país. A cada edição, o evento reafirma o compromisso do grupo com uma sociedade mais preparada para a longevidade.
Neste ano, sob o mote “Longevidade em Movimento”, o fórum promoveu uma tarde de conhecimento, emoção e inspiração, conectando gerações e reforçando que envelhecer é um processo coletivo — e não individual, um movimento que envolve corpo, mente, sociedade e propósito.
O evento contou ainda com a participação de: Margareth Dalcolmo, doutora em medicina pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Ashton Applewhite, palestrante e autora do livro “This Chair Rocks: A Manifesto Against Ageism”, que aborda a felicidade de envelhecer e como a maturidade pode trazer mais liberdade, autenticidade e satisfação pessoal.
Houve também uma apresentação musical de Zezé Motta e homenagens a Dalal Achcar, educadora, coreógrafa e mestre em balé, e à Beth Goulart, atriz, escritora e dramaturga.
O painel com os atores Denise Fraga e Tony Ramos encerrou o encontro com reflexões sobre longevidade e arte.