A transformação digital no setor de seguros brasileiro entrou em uma nova fase. A MAPFRE anunciou a criação de um Centro de Inteligência Artificial Global, com atuação no Brasil, Espanha e Estados Unidos, reunindo especialistas dos três países para coordenar projetos, compartilhar soluções e acelerar a adoção de IA generativa em escala. No mercado nacional, a companhia já aplica ferramentas baseadas em inteligência artificial desde outubro de 2024, em áreas como atendimento, análise de apólices e suporte digital a corretores.
Crescimento acelerado e potencial econômico
O movimento não é isolado. Segundo a Bain & Company, o uso de IA generativa pode elevar a receita das seguradoras em até 20%, além de reduzir custos operacionais entre 5% e 15%, representando uma economia global de cerca de US$ 50 bilhões por ano. Já um estudo do SAS revela que nove em cada dez seguradoras planejam investir na tecnologia em 2025, mesmo diante de preocupações com governança ética, vieses algorítmicos e conformidade regulatória.
Especialistas apontam que a pressão competitiva e o comportamento do consumidor são gatilhos para essa aceleração. O segurado digital, acostumado a experiências personalizadas em setores como bancos, e-commerce e streaming, espera o mesmo nível de agilidade, empatia e assertividade das seguradoras.
Novas aplicações no setor
A inteligência artificial generativa amplia o escopo de automação em áreas críticas do mercado:
Cotações e precificação: modelos gerativos ajustam preços em tempo real, considerando perfis de risco mais dinâmicos.
Atendimento ao cliente: chatbots e assistentes digitais com linguagem natural 24/7, já em operação em várias seguradoras.
Gestão de sinistros: abertura e análise de sinistros com documentação processada automaticamente, acelerando indenizações.
Detecção de fraudes: cruzamento de dados de diferentes fontes e identificação de padrões atípicos antes do processamento do sinistro.
“Estamos falando de uma inteligência capaz de entender contextos, não apenas executar tarefas pré-programadas. No mercado de seguros, isso significa acelerar análises complexas e criar canais de atendimento em linguagem natural, com a mesma assertividade de um especialista humano”, explica Fábio Tiepolo, fundador da StaryaAI e especialista em IA generativa aplicada a negócios.
Desafios: ética, regulação e qualificação
Apesar dos avanços, a jornada não é livre de obstáculos. A Susep (Superintendência de Seguros Privados) acompanha de perto os impactos regulatórios, principalmente no que se refere a proteção de dados, responsabilidade sobre decisões automatizadas e transparência nos modelos preditivos. Além disso, especialistas destacam a importância de capacitar profissionais do setor para trabalhar em conjunto com as novas ferramentas, transformando o corretor em um consultor cada vez mais digital.
“Assim como a internet foi um divisor de águas no atendimento e na distribuição de seguros, a inteligência artificial generativa será na inteligência e na personalização das operações. As seguradoras que não embarcarem nesse movimento correm o risco de permanecer presas a um modelo do século 20, enquanto as que adotarem a IA estarão redefinindo o próprio conceito de seguro”, complementa Tiepolo.
O futuro do seguro digital
Nos próximos anos, a integração entre IA generativa, big data e internet das coisas (IoT) tende a transformar a precificação e a personalização de produtos. Carros conectados, dispositivos de saúde e sensores em residências já fornecem dados que, combinados com modelos generativos, podem criar seguros sob medida, ajustados em tempo real ao comportamento e necessidades de cada cliente.
Se até pouco tempo atrás o diferencial era a rapidez no pagamento de indenizações, o futuro aponta para seguros preditivos, preventivos e personalizados, em que a proteção deixa de ser apenas reação a riscos e passa a ser um ecossistema inteligente de prevenção.