O mercado de seguros no Brasil enfrenta um desafio crescente: as fraudes. Dados da Federação Nacional dos Corretores de Seguros Privados e de Resseguros (Fenacor) revelam que, apenas em 2022, as fraudes comprovadas contra seguradoras somaram R$ 824,9 milhões, representando aproximadamente 16,1% do valor dos sinistros suspeitos.
Esse cenário se torna ainda mais complexo com o uso crescente da Inteligência Artificial (IA) por golpistas, que utilizam a tecnologia para criar documentos e imagens falsas, dificultando a detecção por parte das seguradoras.
Como a Inteligência Artificial está sendo usada para criar fraudes
Uma das principais estratégias envolve o uso de IA para gerar imagens falsas de danos em veículos — como amassados, rachaduras e quebras — com aparência realista. Tecnologias como o deepfake evoluíram a ponto de produzir imagens de alta qualidade, muitas vezes indistinguíveis de fotografias verdadeiras.
Essas ferramentas permitem que fraudadores manipulem imagens para simular avarias inexistentes, tornando o processo de verificação mais desafiador para as seguradoras. A IA também tem sido empregada na criação de boletins de ocorrência e laudos técnicos falsificados, documentos fundamentais na análise de sinistros. Eles são elaborados para simular situações que, na prática, nunca ocorreram.
Essa manipulação torna a fraude mais difícil de ser identificada, já que os dados apresentados aparentam veracidade e são respaldados por imagens e relatos fictícios. Em 2023, a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais (CNseg) identificou e reportou 228 incidentes cibernéticos, reforçando a necessidade de atenção à segurança digital no setor.
O impacto das fraudes no setor de seguros
As fraudes e irregularidades em seguros afetam as seguradoras e também os consumidores. Segundo a CNseg, os pedidos de indenização suspeitos representaram 11,4% dos R$ 44,7 bilhões pagos em 2022. Desses, 15,7% foram confirmados como fraudes, resultando em R$ 460 milhões em perdas.
Esses golpes elevam o custo das apólices, já que as seguradoras precisam compensar os prejuízos. O aumento dos preços pode afetar toda a cadeia do setor, criando um ambiente de maior instabilidade e custos mais altos para todos os envolvidos.
Como a Inteligência Artificial pode ajudar a combater as fraudes
Apesar de ser usada por golpistas, a IA também pode se tornar uma aliada no enfrentamento às fraudes. Segundo Eduardo Cordeiro da Silva, gerente da Unidade Curitiba Leste da Lojacorr, o uso da IA tende a se ampliar no setor. “Acredito que seja inevitável esse aumento de uso da IA. Acho que poderá melhorar o tempo de solução dos sinistros, liberações e até negativas mais rápidas. Mas ainda é necessário que um analista humano esteja no comando para a última análise.”
O uso de IA para combate a fraudes tem crescido entre as seguradoras. Com a capacidade de analisar grandes volumes de dados em tempo real, a tecnologia permite identificar padrões que poderiam passar despercebidos por análises manuais.
Sistemas baseados em IA, por exemplo, conseguem cruzar informações de sinistros para verificar a autenticidade de imagens, boletins e documentos. Também podem realizar análises preditivas que antecipam possíveis fraudes, com base no histórico de comportamento de clientes e corretores.
Corretores também estão na linha de frente
Corretores de seguros também são impactados pelas fraudes com uso de Inteligência Artificial, já que estão diretamente envolvidos nos processos de contratação e regulação de sinistros. Um processo fraudulento mal identificado pode comprometer a relação do corretor com as seguradoras e afetar a confiança do cliente.
Por isso, é necessário redobrar a atenção ao analisar documentações digitais que, à primeira vista, parecem autênticas.
O equilíbrio entre tecnologia e análise humana é indispensável. Cordeiro reforça esse ponto ao afirmar que ainda falta preparo no setor. “Ainda não vejo uma atenção devida da maioria dos corretores. Vejo alguns se antecipando, estudando e investindo, mas, em sua maioria, estão inertes ao assunto.”
Entre os cuidados recomendados, estão desconfiar de imagens excessivamente perfeitas, documentos com formatações incomuns ou históricos de sinistros que destoam do perfil habitual do cliente. A atuação preventiva do corretor contribui para a integridade do processo e pode evitar complicações futuras.
Texto de Isabela Peretti, estagiária de conteúdo, sob supervisão de Camila Ribas.